NOTÍCIA DESIMPORTANTE

NOTÍCIA DESIMPORTANTE

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A tradição, o porte, a (im)parcialidade e o estilo da linguagem são alguns dos componentes de veículos informativos que imprimem à notícia maiores ou menores destaque e significação.

A bula de um remédio recém-lançado no mercado traz informações cujo valor depende de quem as lê – nenhuma importância terá ao usuário que jamais lê bulas enquanto que ao médico seu conteúdo é de vital valia.

Uma foto espetacular, apoiada em legenda atraente, servirá de incentivo se vier estampada na capa de uma revista de circulação modesta.

Uma crônica, assinada por um escritor famoso, mesmo que aborde a mera quebra de um copo, desperta a atenção e os elogios do leitor.

A extensa reportagem que enfoca o desbaratamento de novos focos de corrupção causa espanto e repugnância.

Publicações de balanços empresariais só são examinadas por aqueles que são do ramo ou por alguns poucos curiosos, ávidos por números.

Notas e fotos de clubes de serviços sociais têm leitores assíduos nos seus afiliados e também naqueles que pretendem ingressar nesses clubes.

Temas policiais despertam atenção apenas se fizerem referências a ações violentas e “sanguinárias”, mas somente aos apreciadores do gênero.

Assuntos políticos encontram ressonância nos leitores que gostam de acompanhar “o andar da carruagem”.

Fotos e textos relativos a inaugurações, de obras públicas ou privadas, são entendidos como registros históricos do fato.

As páginas de Classificados são vistas por quem tem interesse em algum anúncio em especial e por quem aprecia estar “por dentro” desta área.

Reportagens que tratam de comportamento humano ganham as atenções se abordarem um tema específico que esteja afligindo o leitor.

Páginas que contêm horóscopos, palavras cruzadas, jogos de erros e programações de diversões recebem as vistas de leitores aficcionados desses gêneros.

E há muitas outras categorias de notícias, aqui não relacionadas, cujos leitores lhes são peculiares.

Deste quadro, traçado de modo parcial, resulta que poucos são os que lêem um veículo informativo “de cabo a rabo”. E mesmo assim, neste caso, nem todas as páginas recebem idêntico grau de atenção.

Mas a inserção de uma notícia desimportante passará despercebida por praticamente todos os leitores. Esta terá, sem dúvida, a leitura indispensável de seu redator, que a examinará minuciosamente com o intuito de apreciar-lhe a exatidão gramatical, o conteúdo informativo das linhas e entrelinhas e até mesmo as interpretações que possa ter.

Se é desimportante, por quê tanta preocupação com ela?

Simples de esclarecer: não há notícia desimportante.

Este tipo específico de notícia, toda vez que ocupar o espaço de uma publicação, merece a mínima indagação – o porquê de ter vindo a público.

O editor do veículo, certamente, não quis apenas preencher espaços. De alguma utilidade a julgou e, nestas alturas, já há dois leitores garantidos: o seu redator e o editor.

O tema com que se elabora a aparente desimportante notícia, embora possa passar distante de 99.998 leitores, talvez tenha, às vezes, um único defeito: seu título, que, aliás, é por onde se começa a lê-la.

Um exemplo ilustra com facilidade esta afirmação.

Título original: O MUNDO GIRA (todos sabem disso, quem leria?)

Se o novo título da matéria fosse O MUNDO GIRA A 1667 km/h, um curioso haveria, no mínimo, para conferir se o valor está correto.