Você nem imagina o trabalho que dá

VOCÊ NEM IMAGINA O TRABALHO QUE DÁ

010.501

Os últimos cinqüenta dias têm sido fartamente movidos a Energia Elétrica. E neste qinquagésimo-primeiro dia, apenas para variar, não deixará de estar aceso, uma vez mais, o mesmo assunto.

A Energia (E) vem antes de Energia Elétrica (EE). Óbvio: E, EE, EEE,... Não é assim tão óbvio, não!

O Universo possui diversas formas de Energia; logo, alguém, por ser habitante do Universo, possui também diversas formas de Energia e, assim, aquele que possui algo é proprietário desse algo. Então, por quê é preciso pagar por algo de que se é proprietário?

Explica-se: alguém realiza um Trabalho quando despende Energia, isto é, faz ocorrer uma transformação ou transferência de Energia e, embora tenha Energia, nem sempre a tem em quantidade bastante ou na forma adequada para realizar o tal Trabalho. Que o diga o almoço que saiu atrasado por causa de ter acabado o gás!

Quando deglutido, o feijão transforma sua Energia marrom – ou preta, se for feijoada – em Energia vermelha, aquela que circula na corrente sangüínea; ao tomar um banho à beira do mar, a Energia dourada do Sol é transferida à pele exposta de onde aflora sua Energia cor-de-bronze. Estas mudanças de cor irradiam a clareza exemplificativa de que a Conversão é propriedade da Energia, isto é, uma forma “vira” outra: terra vira grama que vira leite que... E, com propriedade, diz o anúncio: Leite é Energia!

Nestes tempos a imaginação tem-se mostrado fértil quanto a vislumbrar cenas futuras decorrentes da ausência de ‘força’ (o que provocaria o tão temido “apagão”). Verdade, pois, sendo causa externa de movimento de coisas, a força produz deslocamentos, envolve ação, muda posições, torna claro o escuro, resumindo, é a força motora.

Em sentido oposto, sendo causa externa de repouso, a ‘força’ também produz redução ou parada de um movimento, tendo-se aqui a força resistente. Percebe-se isto quando a luz do semáforo fica vermelha e o pedal de freio é de pronto acionado para frear e parar o automóvel, em típico respeito às Leis de Trânsito!

Aliás, é exatamente de força resistente que se necessita hoje para agüentar essa onda massacrante a eletrizar-nos a qualquer hora, a qualquer segundo.

Falando de Tempo, sua ligação com a Energia gera outro tema corrente: a Potência, que representa a relação entre Energia transformada ou transferida e o intervalo de Tempo associado. Fica fácil de concluir que, quanto menor for o Tempo consumido no exercício de um Trabalho, maior será a Potência requerida e maior a velocidade constatada na transformação ou transferência de Energia. Imagine uma vela sendo acesa com um maçarico em vez de um palito de fósforo!

Em gesto inverso, apaga-se a chama da mesma vela com um leve sopro ou com dois dedos levemente umedecidos de saliva. Vento ou água, em outras palavras, extinguindo o fogo!

A água vem à idéia, de modo geral, na forma corrente, ou seja, ondulando-se no mar, caindo como gotas de chuva, saindo de uma torneira, ou descendo um rio. Nesta idéia destaca-se a mudança de posição e, ao caminho natural percorrido pela água, indo de um lugar mais alto para outro mais baixo, associa-se uma forma de Energia, mais conhecida como Energia Potencial.

Um tronco de árvore flutuante será carregado por quilômetros pela ‘força das águas’ e um pássaro, pousado sobre esse tronco, viajará gratuitamente, sendo seu único trabalho o de evitar enroscar-se em galhos que comumente pendem sobre o rio.

A força resistente de uma barreira deterá o curso das águas do rio que levavam o tronco, mas em seguida começará a formar-se um lago que, ao mesmo tempo, vai se espraiando e subindo de nível. Cessou o movimento? Não, em vez de horizontal, transforma-se, ainda que em marcha mais lenta, em movimento vertical e ascendente, fazendo a água acumular-se. E aquele tronco agora vaga no lago!

O que fazer com tanta água represada? Pelo rasgo que for aberto no topo da represa verterá água que, caindo em forma de torrente, continuará sua jornada. Na queda, alguém muito observador reparou!, sua força girará as pás de uma roda d’água, construída com aquele mesmo tronco que vagava na superfície do lago! Por fim, da roda d’água até a turbina não demora muito tempo e a Energia Potencial da água está transformada em Energia Cinética da roda d’água-turbina.

Pronto! Agora, seja minúsculo, médio ou gigantesco, basta acoplar um dínamo ao eixo da turbina e “aparece”, plena de formosura, a Energia Elétrica.

Ah, quase ia direto para o esquecimento! E o que é Energia Elétrica? É aquela forma de Energia que, se você não souber utilizar com racionalidade, você nem imagina o trabalho que dá p’rá pagar a conta!

Neste Conto Energético só escapou ileso aquele pássaro que, ao ver o caçador de troncos flutuantes, não hesitou nem um segundo: “ligou” suas asas e, flutuando aos sabores do vento, voou!