LETRA DE MÉDICO
Marcos Roberto era médico concursado do Senado. Dava expediente toda quarta-feira à tarde no serviço médico daquela instituição.
Especializado em otorrinolaringologia era muito bom profissional, mas extremamente tímido quando se tratava de conversar com mulheres. Nutria uma paixão secreta pela Maria da Graça uma funcionária do RH que ele via passando na frente de sua sala todas as quartas-feiras.
Já Gracinha, que também era apaixonada pelo doutor, era outra de uma timidez absoluta.
Ela sabia tudo sobre o médico; salário ( R$12.323,65), valores de auxílio moradia, auxílio alimentação, vale transporte, quinquênio, anuênio, milênio, vale estetoscópio, vale jaleco etc etc etc etc etc etc.( e bota etc nisso) Sabia o nome de seus pais ( que ela sonhava em promovê-los a sogros), seu endereço, que era solteiro, e tudo mais. Abusada retirou a foto ¾ da ficha do médico, escreveu ela mesma uma dedicatória com letra redondinha: “PARA GRACINHA COM AMOR ASSINADO MARQUINHO.
Mostrava essa foto para todas suas amigas lá da Ceilândia.
Ninguém tomava a iniciativa, até que um dia, Gracinha sob pretexto de uma dor de garganta, resolveu procurar o médico.
Ele a recebeu profissionalmente, ela informou o problema e aí aconteceu a mais completa cena de uma consulta explícita. Dessas que não existem mais em época de medicina tecnológica.
Ele olhou-a no fundo dos olhos...depois do ouvido...da garganta, pensou num relance em pedir que ela tirasse a roupa...mas a ética médica não deixou.
Bateu com um martelinho naqueles joelhos de Nara Leão, escutou sua respiração, mandou ela dizer 33 um monte de vezes e ficou vários minutos com ouvido colado nas suas costas.
Notou que ela estava com os batimentos cardíacos acelerados ( quase 200) e disse que iria sugerir um eletrocardiograma.
Ela queria relatar também um calor que sentia em outra parte do corpo mais avaliou que ele, sendo otorrinolaringologista, iria apenas recomendar que ela procurasse um ginecologista.
Num ato de ousadia, ele pegou o receituário e escreveu alguma coisa.
Ela, de posse da receita, foi até a 102 sul ( conhecida por rua das farmácias).
O farmacêutico leu a receita, chamou outros intérpretes e começaram o tratamento com uma dolorosa bezetacil dupla na bunda da moça.
Ela saiu da farmácia com uma dúzia de medicamentos e chegando em casa, leu todas as bulas e começou o tratamento.
Isso foi na sexta feira...a moça morreu no domingo.
Laudo do IML: suicídio por overdose medicamentosa.
Ninguém até hoje conseguiu explicar o fato, qual a razão de tresloucado ato.
A Polícia investigando o caso, achou no diário na moça, o receituário do médico. Um grupo de peritos em grafologia, concluiu que aquilo nada tinha a ver com a morte da moça...tratava-se apenas de uma declaração de amor,e o caso foi encerrado.
O doutor Marcos ficou, evidentemente, muito abalado com o caso e chorou muito no enterro da moça.
O tempo passa e a fila anda, com se diz.
Meses depois o doutor se apaixonou pela Sílvia, uma funcionária antiga do Senado.
Aplicou a mesma tática quando a moça o procurou se queixando de dor no ouvido.
Aí deu certo, a moça, que havia se divorciado a algum tempo, viu no médico a possibilidade de uma nova vida e passaram a se corresponder via bilhetinhos.
O detalhe disso tudo e que justifica o final feliz, é que a moça é taquígrafa do Senado.
O casamento deles será no próximo mês e fui convidado prá padrinho.