Reflexos de Brasília em Dourado

REFLEXOS DE BRASÍLIA EM DOURADO

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É difícil imaginar que um douradense não saiba o que está acontecendo lá na Capital do Brasil, tantas são as divulgações através de Internet, revistas, rádios, jornais e, principalmente, televisão.

São cheques, saques, políticos, partidos, secretários, empresas, tesoureiros, esposa, ex-esposa, comissões parlamentares de inquéritos, gravações, cópias, deputados, relatórios, senadores, transmissões ao vivo, noticiários... Enfim, estes são alguns atores das cenas que tomam o País há mais de três meses...

Se esse espetáculo receber o nome de crise política imediatamente haverá quem se desinteresse, alegando: “Política, para mim, só quando tem eleições e olhe lá!”.

É duro dizer, todavia, que comete grande engano aquele que assim se pronuncia.

Apesar de, aqui de longe, de Dourado, aparentemente nada podermos fazer para interferir no desenrolar daquelas cenas, caem sobre nós os reflexos desse espetáculo.

Como perceber esses reflexos?

A primeira maneira manifesta-se na curiosidade em saber que nova revelação houve ou, o que tem sido mais freqüente, que repetição houve. Esta mínima curiosidade, diante da novidade nova ou da novidade repetida, afeta quem se inteira do ocorrido porque parece reforçar-lhe a sua antiga idéia de que “De políticos outra coisa não podia se esperar!”.

Entretanto, vale advertir que essa é uma generalização bastante perigosa, a de supor que “Todos são chaves do mesmo chaveiro”.

Se a primeira não for uma maneira importante de descobrir os reflexos de Brasília em Dourado, uma segunda há que atinge o cidadão douradense. Traduz-se na resposta à pergunta: - “Se não houve cobrança de ingressos, se a entrada é livre, quem patrocina esse espetáculo?”.

Não há um só holofote, que ilumine a cena, cuja energia não seja paga com dinheiro público.

E que dinheiro público é esse? É aquele proveniente da soma das parcelas que cada cidadão-contribuinte paga aos cofres públicos.

Ninguém pode imaginar-se não-contribuinte, pois para isso seria necessário que jamais tivesse tocado num centavo sequer!

Qualquer atividade que envolve a famigerada moeda de troca, o dinheiro, já está carimbada com a fração destinada ao cofre do povo.

Ah, mas agora existe a moeda não-contabilizada...

É uma grande verdade que, aliás, sempre existiu, porém a moeda não nasceu do nada. Veio de algum lugar, circula por um qualquerduto e há de desembocar em algum cofre que poderá não ser o público.

Esta é a cena mais forte do espetáculo.

Por mais artificiosas e inventivas que sejam as atividades e vias de circulação, tudo, um dia, acaba sendo desnudado.

Pode ser minúscula, para não dizer ínfima, a parcela que o douradense pagou para patrocinar o festival de desvios de moeda, que ora está sendo exibido no centro do cenário nacional, mas pagou!

É mixaria, é quase nada, mesmo, mas é uma moedinha que o cidadão teve de trabalhar para consegui-la... E há quanto tempo ele já não vem contribuindo, diariamente, e, na maioria das vezes, sem saber que está depositando a sua humilde contribuição...

Resumo incontentável: Por não haver uma transação sequer que dela não se extraia a fração destinada ao cofre do povo é que o mais desinteressado dos douradenses acaba atingido por esses atuais reflexos brasilienses.

Decerto que é extremamente alarmante o enredo do espetáculo em exibição, entretanto muito mais extrema atenção deve ser dirigida ao que está sendo produzido para evitar futuros reprises.

A partir de agora a distância do centro decisório não pode mais servir de argumento à omissão.

Se fagulhas de lá caíram aqui, então daqui para lá irão rojões.

E esses rojões têm uma marca: voto.