... Ai que saudades eu tenho da Bahia

Pois é... eu morava em um barraco construído sobre uns pau num mangue nas beiradas da cidade de Camamu. Chegou umas moça lá que disse que era assistente social e chamou nosso barraco de palafita... êta nome bonito.

Você sabe o que é assistente social? É umas moça que o governo paga pra sentir dó de nóis... que coisa não?

Tinha um primo que veio pra Brasília e toda vez que tirava férias ia visitar a gente. Chegava todo importante num Chevette. Falava maravilhas da cidade. Que era a terra da pizza, que tinha marmelada por todo lado e a gente lá passando fome.

Meus menino só comia peixe, catado de caranguejo, siri, camarão e essas porcaria que dá no mar. A tal da lagosta eles detestava, dizia que a carne era doce e sem graça. Prá beber só tinha suco de graviola e de cacau. As fruta era banana, carambola, jaca, manga. Nunca comia um doce desses de lata, O dinheiro não dava pra nada.

Eu ganhava dinheiro fazendo bico. Vendia coco, pastel e camarão no espetinho na praia quando tinha muito turista. Quando não tinha eu ia prá BR 101 vender fruta, sagüi, filhote de papagaio que os caminhoneiro adorava comprar. O único problema era um tal de IBAMA, que aparecia de repente e tomava os bicho da gente. Cheguei até a ser preso, nunca entendi direito por que.

Os dotô do tal do IBAMA dizia que eu cometia um “crime ecológico inafiançável”... que será que isso significa ?

Mas eu queria progredir, dar pros meus fio tudo de bom e do melhor: maquidonaldi, amburgue, pizza, coca-cola, rotidogui, e essas coisas que só rico come.

Não sei se já falei, tenho três fio. Jorge Óxito, Ingriddi Priscilla, com dois dês e dois eles, e Werônica Waleska, com dábliu. Nois é pobre mais é metido a dar nome bonito pros filhos.

Deixei a mulher buchuda. Já decidimos; se for menino vai se chamar Tonibler e se for menina vai ser Leidedai, por causa de uns estrangeiro que a gente vê na televisão. Acho que eles é casado um com o outro.

O único luxo que tem lá na palafita (êta nome porreta... palafita) é uma televisão que eu comprei usada; custou 75 real, mas a mulher e a garotada me encheu até eu conseguir. Os meninos não quer nem ir mais prá escola, dizem que a televisão instroi muito mais que a professora.

O pessoal diz que ela é preto e branco, engraçado, eu acho que é verde e branco, não sei onde eles vê o preto.

Cheguei tem dois mês, não consegui nada. Outro dia tava sentado num banco lá do setor comercial e fiquei admirando um camarada limpando as janelas de um prédio alto. Morri de inveja. O cara tava de macacão azul, bonito, escrito Conservadora Mundial nas costas e tinha um capacete branquinho, lindo.

De repente ele se soltou e se esborrachou no chão, juntou de gente prá ver.

No dia seguinte, eu que sou muito esperto, fui na tal Conservadora Mundial, lá no Setor de Indústria tentar conseguir a vaga deixada pelo falecido, já tinha toda a explicação: tava acostumado a trepar em pé de coqueiro do tamanho daqueles prédio e pra mim era moleza aquele serviço, cheguei a me imaginar dentro daquele uniforme. Sabia que eles pagava bem, um salário mínimo, mais vale transporte, mais vale refeição... nossa, eu ia ficar rico. Tava até me imaginando dentro de uma Brasília, chegando em Camamu, igual meu primo, todo importante.

Chegando lá, sete horas da manhã, tinha uma fila com mais de trinta peão na porta da firma, todos comentando o acidente do Setor Comercial.

Porisso, dotô, quero voltar prá Bahia.

Wilson Pereira
Enviado por Wilson Pereira em 08/08/2009
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