Do Viver e Do Deixar Viver

(06.11.2007)

Nenhuma árvore cresce porque tem algum objetivo, expectativa ou crença. Toda árvore cresce, com paciência e sabedoria, para viver o seu tempo, o seu momento, a verdade dentro de si. Sem especular sobre outros mundos ou esperar por algo além do que já tem e oferece: a vida.

E existe ser mais verdadeiro do que a árvore?

Acontece num pisão, num tapa ou numa vassourada.

Um simples ato de aniquilar, e um inseto é esmagado. Não importa muito a razão: por nojo, por medo ou pela sensação de poder. De poder abreviar a vida. Fácil e pouco contestado, são impulsos assassinos voltados para seres impotentes e vulneráveis. Sorte que estamos em tempos de ambientalismo. Não faço julgamento de valor – tenho meu inseticída em casa. Mas é certo que, tirando os insetos teimosamente nocívos, não há razão para nossos atos tiranos aos outros.

Parece pequeno. Mas, ainda assim, é desrespeito à preservação da vida. Quem não é bom com as questões pequenas, não pode ser às grandes. Vê-se pela quantidade de cães e gatos que encontramos atropelados nas ruas, avenidas e estradas brasileiras. Vê-se pelos homicídios.

Não há educação para nos penalizar.

O gesto é rápido. Automático. De repente, começa-se com uma guimba de cigarro, pedaço de papel ou cusparada no chão.

Na esquina tem um plástico amarelo, que envolve latas de cerveja. Já deve ter até nome. Não acredito que quem o jogue pense. Pense! O ato é de desprezo. Sua condição principal é não pensar. Mais agressivo é saber que quem passa não nota o lixo abandonado. Pense! Quem não nota, não pensa. Aceita viver assim. Promove e preserva. Não a vida. A imundice. Como a nascente que denunciaram, há algumas semanas. Apesar do mutirão à sua limpeza, voltou a ser usada como lixão. A sujeira rola solta, escondida naquele local que a vida deu com tanta generosidade. É a natureza humana desdenhando a natureza.

Pense! Falta amor para nos penalizar.

Num tranco, esbarramos e aniquilarmos uns aos outros. A cada saco plástico, aumentamos o tamanho da negligência. Com a mesma tranquilidade que esmagamos uma barata - aquele líquido amarelo, víscoso, que se mistura com as asas e as antenas. As patas asquerosas e contorcidas – nos sufocamos em nosso desprezo a vida. Nojento?! Não mais do que certos terrenos baldios e ruas. Começa-se pelo entulho. Dai, à lama misturada com sacolas. Latinhas de cerveja no meio do mato. Rios e canais que, agora, são chamados de ‘valas’.

Presenciei as obras em Meia-Praia. Esgoto em chafariz, pulando para abraçar aqueles que passam. Os carros espirram a água – água? - que fede na cara dos pedestres. Entendo porque se chama Meia-Praia. Nunca será completa. Haja vista a evidente falta de planejamento em sua urbanização. A Zarling deles? Não precisa ser vidente: o nosso azar.

E vêm o óbvio a nos penalizar.

De repente, toca-se na mesma tecla.

Seria simples fazer simplesmente o certo. Como uma árvore que cresce. Porém, incrivelmente, defecam e caminham quanto a isso. Seus detritos espalham-se pelas ruas. Amontoam-se, aos poucos, esmagando a vida. Sacramentando a frase que li: ‘não haverá balneabilidade’. Transbordarão os excrementos encondidos no subsolo da nossa teimosia. No cotidiano de nossa porcaria. Na soberba que começa com petelecos nos cigarros, e terminam em fossas pro mar. Ora, este sempre devolve o que lhe oferecem.

Lambuzado, caramelizado, com antenas, patas e urubus a nos penalizar.

Não vê? Então, se acostumou. Isso, porque participa. Claro, por falta de consciência.

Sendo assim, não tem jeito. É o fim!

A árvore cai.