Um corpo vazio
Sem poesia, meu corpo é vazio como se não houvesse alma alguma, a tenho como espirito que sustenta a carne fraca e podre. Tento a tentação e a possuo dentro dos olhos e do libido, tenho sete faces para cada pecado, são tantos.
Escolho as palavras como guache em tela, visualizo o caos do ser, perdido em torno de si, dando voltas vazias no buraco negro de toda existência, possuo, a paz e o ódio, o ardor e o vazio, o sexo e a poesia, vejo as cores possíveis, me farto com o pouco sangue disponível e pereço na escuridão negra tão negra. Olhares negros, faces desbotadas sem brilho ou contraste que as realce, sem letras, palavras ou poesia que o valha, tento em vão e gozo sozinho. Tenho mais dentro de mim que se pode sustentar, não vejo no espelho o homem que sou, vejo o jovem que fui através dos olhos deste homem que me tornei, dentro de tantas faces, um jovem, um homem, sem vinculo, não se admiram. Se ao menos este jovem que consumi e torturei soubesse o porque, e este homem entendesse e compreendesse, a coragem do ser, ainda seria então, e em um só meu estado se fundiria. Um homem, um jovem, olhos profundos e leves, o conhecimento e a coragem, paradoxos de proporção absolutamente inversas. O homem mata o jovem, o jovem não aceita o homem, e neste espaço aberto, a poesia se esvai por ai, faria ponte eu, como tenho tentado fazer. Uns dizem ser incoerente, outros que não tenho noção, fora da realidade ou louco, sou apenas uma vibração disparada em sua velocidade de redução tentando encontrar o sentido do que já está a sua frente, não, não espero enfeites de fitas no sertão, não quero fogos ou explicações da felicidade ou de minha existência, apenas quero saborear o doce e o amargo em sua intensidade, e entender o porque saboreio, o porque de minhas escolhas e decisões. Digo então que a poesia se constrói na inconsistência do homem, em suas fraquezas e desejos não alcançados, contradigo, em suma, que a sabedoria de saber o porque de uma fraqueza ou dor, ou optar por não ser consistente também faz o homem buscar a plena poesia de ser assim, admito então que a poesia é tudo o que foi, é e será, o que não sabemos explicar, a morte e a vida, o gozo e o desespero, e fica claro entre a ponte da vida, do saber, do homem e do jovem, qual for, sem a poesia, sim, é só um corpo vazio.