AS DELICIOSAS CARAMBOLAS

A gente era obrigado pela sociedade, pela escola, e principalmente pelos avós, a fazer a primeira comunhão.

Todo domingo tinha que assistir às aulas de catecismo, à missa e ainda por cima confessar.

O pároco local era um cracoviano alto, vermelhão e com nariz de batata. Tinha uma voz assustadora e um sotaque polonês terrível.

Domingo de manhã a "pelada" correndo solta no terreno baldio perto da igreja e a gente lá...

Em compensação tinha as garotas. Mas antes de eu falar sobre as garotas na igreja, deixa eu explicar como era o uniforme delas na escola.

Começando pelos pés: um par de vulcabrás 752 que parecia um coturno militar com meias grossas de lã que iam até a altura dos joelhos. A saia plissada, era xadrez de verde, azul e preto e descia até abaixo dos joelhos. Depois vinha uma camisa de manga comprida branca, de gola e com uma gravata igual à saia. O cabelo era preso e escondido debaixo de uma boina preta e pra completar uma mochila, muito sem graça.

Conseguiu imaginar? ...se não, leia de novo.

Agora, no lugar da mochila, coloque uma "gaita de fole" e o que teremos? ora... um legítimo e assexuado escocês de "kilt" e tudo. Mais legitimo que um "Black Label" 12 anos (por sinal a mesma idade das meninas).

Na igreja não. Eram uns vestidos "tubinho" com sapatos de saltinho 3,5 emoldurando aqueles pés branquinhos e delicados.

Os cabelos pareciam os da Rita Hayworth..., os lábios eram como os da Marilyn Monroe..., algumas tinham a pele da Natalie Wood (a maioria já sofria com a acne comum da idade)..., os olhos eram da Kim Novak, (os da Elizabeth Taylor não admitem clonagem). Os pescocinhos lembravam o da Audrey Hepburn.

Os.. Os.. Os... ah! deixa prá lá; eu ia falar da Jane Mansfield, mas disso, elas estavam muito longe.

Agora já não se pensava apenas nas "peladas" da rua.

Aí vinha a pior hora. Confessar.

Eu - Seu padre, peço perdão porque pequei e faz “X” dias que não me confesso.

Padre – Sim meu "filhas, poder contarr" os seus "pecadas"

Eu – É... é...é... (pensando rápido e vendo se achava algum pecado "contável")

Padre – Por acaso "focê" não fica olhado pelo "burracas" do "fechadurra" a "empregadas" do "seu" casa tomando banho?

Eu – Não seu padre... ( mas que dica formidável!!. E olha que a Joana é bem "boazuda", pensei com meus botões).

Padre – Como "chamar" "aquele árvorres" grande que fica no fundo do "galpon" de "educaçon" física?

Eu – Uma que dá uma frutinha sem graça que se perde e ninguém quer comer?

Padre – Esse "mesma"

Eu - É carambola, por quê?

Padre - "Focê" "porr" acaso não sobe no pé de "carrambolas parra ver os" meninas trocando de roupa no "vestiárrio"?

Eu – Deus me livre seu padre! isso é pecado. (Oba!! outra dica sensacional, pensei de novo, essa confissão tá rendendo).

Padre – "Enton", estou esperando seu "pecadas".

Eu – eu... eu... eu... falei um palavrão

Padre – Que "palavron”?

Eu – é...é...é.. merda... pronto falei de novo.

Padre – Isto "ser" "um" coisa muito feia, "focê" deve rezar um Padre Nosso, cinco Ave "Marrias" e três Salve Rainhas e está absolvido.

Eu – Padre Slawomir não dá pra trocar essa Salve Rainha por Ave Maria ou Padre Nosso? É que eu não consigo decorar o Salve Rainha.

Padre – "Focê" pensa que isto "ser" um "brincadeirras", só por isso "focê" tem que pagar "o" penitência dobrada e some "do meu" frente, seu... seu... seu...seu GÓWNO.

Nem me lembro se paguei a penitência, mas não esqueci do nome que ele me chamou... gówno.

Chegando em casa, cheio de idéias, tive a maior decepção: minha mãe havia despedido a Joana.

No dia seguinte, fui direto encontrar um colega de escola filho de poloneses e fui logo perguntando:

- O que quer dizer gówno?.

Ele rolou no chão de tanto rir.

- É a palavra mais usada lá em casa e quer dizer... MERDA, ele disse.

Peraí, ele me deu uma penitência por dizer merda e me chamou de... gówno ou seja, merda.

Daquele dia em diante acabou o complexo de culpa por não ir à missa, nem confessar, nem ir ao catecismo.

Tornei-me o mais assíduo, aguerrido, combativo e esforçado ponta esquerda do meu time; a pelada passou a correr solta nas manhãs de domingo pra mim também.

A gente só parava prá ver as meninas saindo da igreja depois da missa e conferir se entre elas já havia alguma Anita Ekberg.

Fiquei conhecido também como o maior apreciador e chupador de carambola de toda a escola. Estava sempre trepado no pé procurando pela fruta... Se é que me entendem...

Wilson Pereira
Enviado por Wilson Pereira em 25/07/2009
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