AQUELA SIM, UMA LINDA MULHER
Cheguei ao balcão da companhia aérea e ela estava na fila na minha frente, olhou pra trás e esboçou um leve sorriso, como quem dissesse: - só um minutinho.
Quando sorriu vi uma covinha do lado esquerdo e sardas sobre o nariz levemente adunco. Deu pra notar também uma pequena cicatriz do lado esquerdo do lábio superior, quase imperceptível.
Os olhos castanhos claros, pareciam um pouco tristes.
Virou-se de costas pra mim e ficou conversando com a atendente.
Reparei que seu cabelo, bem curto, era castanho claro natural com alguns fios brancos, estatisticamente poderia dizer uns cinco por cento.
Ela deve ter uns quarenta anos, pensei.
Mas onde eu vi essa mulher antes?
Fiquei olhando por sobre seus ombros... seios pequenos...colo com algumas manchas de excesso de sol.
Mas onde eu vi essa mulher antes?
Fiz meu ”check-in” entrei para sala de espera e me sentei propositalmente na frente dela.
Ela usava um vestido não muito curto, nem muito longo, na altura dos joelhos.
Reparei tudo e engraçado, não me lembro da cor do vestido.
Ela cruzou as pernas, vi que eram grossas e bem torneadas...nada de perninhas de seriema. Tinha uma cicatriz enorme no joelho direito, será que foi algum acidente? Pensei.
Vi também algumas estrias, ou seria celulite...homens não conseguem distinguir muito bem...mas não eram tão aparentes, afinal ela deveria ter uns quarenta e isso eu considerei natural.
Acho que ela estava precisando fazer um regimezinho, uma academia talvez, mas tudo bem... confesso que também não sou nenhum Adonis.
Mas onde eu vi essa mulher antes?
Foi feita a chamada para o embarque, fui andando logo atrás reparando o seu caminhado, era uma bundinha que eu classificaria como tamanho “M” e um molejo bem brasileiro, mas sem exagero. Acho que ela ficou um pouco incomodada com minha perseguição.
Apesar de haver mais vagas no voo sentei-me ao seu lado, e ela sorriu e mostrou novamente aquela covinha do lado esquerdo e a cicatriz no lábio. Agora, mais de perto ficou evidente algumas rugas no canto dos olhos.
Mas onde eu vi essa mulher antes?
Entabulei uma conversa da forma mais besta:
- De onde te conheço?
Ela abriu um belo sorriso.
- Trabalho da televisão, você já teve ter me visto em alguma novela.
Fiquei um pouco constrangido por não tê-la reconhecido e ela explicou:
- Faço pequeno papéis, faço comerciais e trabalho em teatro. Nunca fui muito famosa mas agora com a idade só me arranjam papel de secretária e de tia, daqui uns anos só vou fazer papel de avó.
Sorri amarelo, continuava sem saber seu nome.
Contou que seu pai estava doente e que ela tinha vindo à Brasília para visitá-lo.
Acho que ela precisava desabafar e o felizardo fui eu que fiquei o tempo todo do voo prestando atenção à sua história e com os olhos fixos na cicatriz dos lábios...que vontade de beijar aquela boca.
De repente me lembrei que ela estava numa capa de revista masculina, mas não disse nada.
Aí, ela contou que tinha pousado para uma revista e estava muito envergonhada; se seu pai visse iria morrer etc e tal.
Eu disse: - Que nada, no mês que vem será outra e te esquecem.
Contou-me um pouco mais de sua vida, o casamento que teve com um diretor, viagens, trabalho e eu falei um pouco de mim. Nada de excepcional.
Despedi-mo-nos no saguão do Galeão.
Fiquei encantado; apaixonado por uma mulher tão linda, simpática e autêntica.
Se fosse um carro eu diria “semi-novo com acessórios originais de fábrica”.
Tão logo ela entrou no taxi, corri para uma banca de revistas e comprei aquela edição com ela na capa.
Havia pelo menos umas dez fotos dela nua.
De frente, de lado, em vários closes.
Fui então conferir os detalhes que ainda estavam frescos na memória.
Cadê a covinha?... sumiu. A cicatriz na boca também, mas tinha aparecido um furinho no queixo.
O nariz sardento que eu tinha achado levemente adunco parecia com o da La Toya Jackson.
Rugas, nenhuma, os olhos verdes, o cabelo louro, sem nenhum fio branco.
Os seios fartos, pareciam com o da Dolly Parton e sem as manchas no colo.
A bunda era quase igual à da mulher melancia, tamanho XXL...uau!!!
Quedê as estrias? Cadê a cicatriz no joelho? E as gordurinhas? Nada.
Aplausos para o fotógrafo, a maquiagem e o fotoshop.
Joguei a revista na lixeira e disse para mim mesmo:
- Fico com a lembrança da original por quem me apaixonei.