Da Opinião e Da Verdade Absoluta

(21.05.2007)

"Dois e dois são três" disse o louco.

"Não são, não!" berrou o tolo.

"Talvez sejam" resmungou o sábio.

(Skepsis, José Paulo Paes)

O termo “matemática” e o termo “filosofia” foram criados pelo mesmo pensador, Pitágoras. Este liderava uma escola, na cidade grega de Samos, a chamada escola Pitagórica. Seus alunos regulares eram chamados ‘mathematikoi’. Quando, por causa de seu conhecimento, Pitágoras foi chamado de sophos – que quer dizer sábio em grego – ele refutou: “não sou um sophos, mas Philo sophos”, que quer dizer amante do saber ou da sabedoria. Daí, filósofo.

A relação entre filosofia e matemática é muito estreita. Assim, é a relação entre a matemática e a vida.

Já ouvi frases que se tornaram clichê, em diversas rodas de discussão: “não existe verdade absoluta” e “é muito ‘perigoso’ afirmar isso”.

No último caso, usa-se o termo ‘perigoso’ com o sentido de ‘levar a um erro’.

A preocupação em afirmações ou com a verdade absoluta advém de outro lugar comum à matemática: “tudo é relativo”.

Sim. Dependendo do ângulo em questão, a verdade pode se apresentar de diversas maneiras. No entanto, se as relações dentro daquele sistema forem apresentadas de forma fundamentada, a verdade torna-se única, sem chances para uma segunda verdade.

Não fosse assim, jamais existiria qualquer teoria, qualquer crime, qualquer invenção. Tudo estaria fadado ao equívoco.

Atear fogo em alguém dormindo, ou espancar alguém num ponto de ônibus seria relativo. “Ah, pensávamos que fosse um mendigo”; “ah, pensávamos que fosse uma prostituta”. Seriam estas desculpas plausíveis?

Dentro de um sistema, portanto, o que era simplesmente relativo torna-se, se não absoluto, muito próximo disso. Ou seja, existem extremos que, se não observados, agride não apenas o bem estar dos outros, mas também a sua inteligência, a sua integridade, a sua moral e ética.

“Não se constrói uma casa pelo telhado”, essa é outra frase lugar comum. Porém, dentro do conceito que temos de construção, também uma verdade absoluta. Pois, existem fundamentos para a construção, para o empenho e investimento, para os custos humanos, financeiros e sociais, em uma, qualquer obra, os quais estão dentro de um mesmo sistema de relações.

Por esta razão, não existe uma segunda verdade no que acontece em Bombinhas. Obras de saneamento, urbanização de vias enlameadas, como a Avenida Fragata, preocupação com a poluição e os direitos dos trabalhadores, etc. devem ser prioritários a obras de embelezamentos ou inutilidades, como o caso do Pórtico que obstruirá a visão do mar.

Não é uma simples questão de opinião. Opinião não precisa de fundamento. Posso gostar de peixe, você de carne; de carro, outro de moto; de mar ou de montanha. Nada disso requer explicação.

Mas, administrar um município, participar de seu Executivo ou de seu Legislativo, exige mais do que uma simples opinião. Demanda reflexão, coerência, fundamento.

Ahhhh... mas isso é tão relativo!