Os Anjos de Maria
Maria Lica e Edmundo vieram , com duas filhinhas, de Teófilo Otoni para Divinópolis. Ele mais calado, introspectivo e Maria Lica, mais comunicativa, a todos alegrava com seu repertório inesgotável de anedotas.
O tempo passou rápido e as meninas se tornaram lindas mocinhas. E as preocupações é que não faltaram. Mesmo com todo o mimo e cuidado da mainha e do painho, as meninas, às vezes, extrapolavam em suas algazarras. A mainha chorava e a depressão chegou de mansinho.
Um dia, no auge da tristeza,Maria Lica chegou à janela e viu um céu muito azul que lembrava o manto de Maria e animou-se a dar seu grito de socorro, não se importando com o julgamento da vizinhança:
- Oh! Meu Deus, meus ombros não suportam tamanho peso! É muito sofrimento em minha vida. Envia-me seus anjos para socorrer-me porque não tenho mais forças.
O interfone tocou, interrompendo suas súplicas e lágrimas. Eram dois rapazes, seguidores de Mórmon, cuidando da evangelização. E muito conversaram com Maria Lica aqueles dois americanos – jovens ainda – que deixaram suas famílias para ficar a serviço do Reino. Maria Lica viu neles os anjos que há pouco pedia a Deus. E eles encontraram uma família que os acolheu por todo aquele tempo que aqui permaneceram.
Um dia, Maria Lica me liga:
- Fernanda, meus anjos querem tocar piano!
E assim fiquei conhecendo os dois anjos loiros de Maria Lica. Ela feliz e eles também ali esquecidos do mundo, enquanto dedilhavam o ébano e o marfim. Coisa de anjo, também para mim.