Do Gato por Lebre

(07.08.2007)

“Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já era impossível distinguir quem era homem, quem era porco" (A Revolução dos Bichos – George Orwell)

No clássico da literatura britânica ‘A Revolução dos Bichos’, animais de uma fazenda são liderados por porcos para expulsarem os donos, seus opressores. Após a vitória, passam a trabalhar ainda mais para manterem as regalias dos porcos líderes. Por fim, porcos e homens se unem. E os bichos, que antes sonhavam com uma fazenda igualitária, vêem-se em situação pior do que a de antes.

Tal livro ficou famoso por sua comparação com as tão sonhadas revoluções sociais da humanidade e seus resultados ilusórios.

No Brasil, não foi muito diferente.

Durante a ditadura militar, todo comportamento considerado subversivo era questionado ou acusado de comunista. Não era adequado falar sobre política, naqueles tempos. Era a censura da palavra.

No final dos anos setenta, muitos levantavam a bandeira contra essa repressão. Lula surgiu com seus comícios, no ABC. E Fernando Henrique Cardoso era considerado um intelectual de esquerda. Ambos, a sua maneira, diziam acreditar na justiça social para o trabalhador e a democracia.

Ora, não existe justiça nem democracia sem conhecimento. E tais governantes, em suas chances, jamais investiram em educação, com seriedade. Impedindo, assim, o cidadão de diferenciar o certo do errado; o justo do injusto. Foi a censura da audição.

É muito simples: quando compramos um carro temos que observá-lo por fora, por dentro, abrir o capô, ouvir o ronco do motor etc. No caso de não entendermos, dependemos de alguém de confiança para fazê-lo. Senão, corremos o risco de levarmos ‘gato por lebre’.

Da mesma forma, temos que ter atenção com a idéia que nos vendem. Uma vez que, por fora, todos os ideais políticos são muito bonitos; e quem os vende mostra apenas o lado sedutor do seu produto. Quando um povo não tem acesso à cultura, não sabe avaliar ‘o ronco do motor’, o ‘estofamento’ ou a ‘lataria’: o que há de escondido nas idéias políticas: os interesses próprios do abuso de poder.

Por esta razão, os políticos brasileiros sempre dificultaram a educação popular. Para que os brasileiros sejam manipulados facilmente, sem que tenham acesso às verdades históricas. Sem que saibam que promessas como ‘Liberdade, Igualdade e Fraternidade’ ou ‘Paz, Terra e Pão’ sempre acabaram em censura, violência e miséria, beneficiando apenas seus líderes.

Hoje em dia, nosso presidente gosta de falar grosso para esconder seus muitos erros. Mesmo quando vencemos, nos jogos Pan-Americanos, mostra um ângulo que lhe interessa, dizendo que há aqueles contra o sucesso do país.

Como podemos saber se isto é verdade? Dependemos apenas de sua palavra: ‘pode levar, nunca foi batido’, diria, se fosse vendedor de carros.

Assim, temos que tomar cuidado com o que é dito. Porque, até a palavra, até a idéia, tem que ser ouvida por vários ângulos. Como quando compramos um carro ou um barco. Do contrário, é ‘gato por lebre’.

Portanto, a comunidade deve defender-se, deve exigir investimento em educação, saúde e infra-estrutura; de forma persistente, unida e pacífica. Em passeatas sem violência, e sem idealismos. Refletindo em quem votar, ao invés de vender seu voto por ajudas pessoais ou acreditar em promessas revolucionárias que, no fim, são usadas apenas para o bem do político eleito. Seja de qualquer partido.

Pois, na verdade, a História já demonstrou que quem assim compra voto, não é nem de esquerda, nem de direita.

É do centro do seu próprio umbigo.