De Yoko Ono Há John Lennon?

(25.11.2007)

“Dizem que em algum lugar, parece que no Brasil, existe um homem feliz"

(Vladimir Maiakovski - poeta russo)

As obras de arte da artista plástica Yoko Ono estão expostas em São Paulo. Em um programa dedicado a ela, assisti suas obras analisadas, um resumo de sua vida pessoal e profissional e a entrevista com a artista. Num dado momento, lembrei-me de Che Guevara. Depois explico por que. Mas, não se preocupem. Nada falarei do terrorista argentino.

Para começar, os trabalhos de Ono são muito bons. Surpreendi-me. Na verdade, nunca fui muito com a cara dela. Sempre a achei presunçosa. No entanto, seus trabalhos são realmente de qualidade e profundidade. Eu, que não gosto do conceito de arte conceitual, vi que a artista está ‘Onos’ luz dos contemporâneos desse estilo, que procuram obsessivamente uma idéia para mostrar uma idéia para chamar a atenção da idéia de si mesmos. Ao contrário, seus trabalhos nitidamente partem de conceitos que surgem internamente de si, pedindo para sair.

Quanto a sua história, nada de novo. Algumas coisas, talvez. Muito de acordo com o que já sabia, porém.

Em relação à entrevista, gostei do fato de ser objetiva sem deixar-nos na interrogação subjetiva. Respostas rápidas. Entretanto, concretas. Como seus trabalhos. Concordo com boa parte do que disse. Mas isto é outro papo.

Em dado momento, a entrevistadora comenta sobre amigos que ficaram sabendo da entrevista: “nossa! Você vai falar com ela? Não acredito”.

E é aí que o Che se UNE à ONU. Nesta curiosa tendência infantil de mitificar, na procura ilusória da perfeição. Na procura de alguém que representa o inquestionável. O Santo, o Senna, a Santa D’arc... Elvis, “Maicon” Jackson; enfim, o fim. Os imaculados de concepção imaculada. Eles não erram. Iludem. Somente aqueles que têm o chilique da presença mística dos imortais se sentem reles mortais.

E isto é fatal.

* * *

Alegria, alegria! O Brasil é alegria! E, justamente, por isso devemos defender este lugar sagrado, esta cultura sagrada, esta arte sagrada. Não deixemos que um lado negro do país do humor cresça e transforme-se em humor negro. Se tudo é tão bom, vamos defender o que temos de melhor. Não se iludam! Estamos sob a ameaça do nosso pior inimigo: nós mesmos; conformados, confortáveis, iludidos que o mito não morre. Esta é a luta a ser travada. Do contrário, nossa alegria cairá como as Araucárias e Aroeiras nas mãos mitológicas da estupidez. Fato e extinção.

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Yoko Ono, na juventude de seus setenta e quatro anos, diz que já era artista antes de conhecer John. E é fato. Não é mito. Quanto de Lennon há em Ono? Quanto de Yoko há em John? O mito atrás do mito. Inexplorável. Reproduziram sua própria imagem e sua própria arte. Início e fim. Começo, som, arte, dança e conclusão.

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O Brasil é um mito. O mito da felicidade. Isto é fato e magia. Real e imaginário. Vivido e vívido. O solo fértil. De clima saudável, agradável. De povo receptivo, criativo. Realmente único. No entanto, urge que se use a intuição de lidar com o Brasil Instituição. Viver aqui se torna sempre um jogo muito além das palavras. A mãe do jeitinho. A sobrevivência que se descobre com a vivência. A vivência que ameaça a sobrevivência.

Não se pode deixar de lado o Brasil do sorriso. Mas, como faremos se cariamos nossos próprios dentes? Com doces chiliques que esperam do mito do mato sua imortalidade, enquanto o executamos. Tal canal deve ser encarado com coragem. A distância, negligenciada à distância, dos sorrisos de lado. Lembrem-se: estamos “de lado” errado.

Na antiguidade, mito e homem transavam para que nem o sonho fosse tão alto, nem o solo tão sem magia. E Brasil é magia. E Brasil é solo. E solo sozinho, somente, não sobreviverá. Nem sua magnífica magia o manterá, se maltratada. Mito e solo caem ante uma verdade esquecida. Ícaro, em seu mítico vôo solo, já caiu nessa.

Não entre no chilique! Voe sem tirar os pés do chão. Achar que o Brasil é o imortal a ser explorado é fatal.

Ame-o ou deixe-o de seu elogio sem compromisso.

Fato ou extinção.