O PAPO AMARELO DO JACARÉ

(15.07.2009)

Quem conhece Bombinhas – SC conhece a ponte que separa o Centro do município do bairro de Bombas. E lá, naquele dia, como dentre tantos, passava um bêbado invertebrado.

Bêbado é alguém que todo mundo critica. Boêmio, não. E qual é a diferença? Boêmio é artista; bêbado, não.

Lembro-me, certa vez, de ter lido que Auguste Rodin amava as mulheres. Ora, se fosse outro, seria chamado de galinha. Porém, Rodin, “amava” tanto as mulheres que transava com tantas quantas as que podia e podiam, com “ph”.

E eis que o bêbado, de Bombinhas, que não é boêmio nem bombinense, vê um jacaré no canal que leva tudo, inclusive água, para o mar. Sei que em Bombinhas não tem jacaré. Mas, tem crocodilo. Fiquemos com o primeiro réptil, pois lá é preciso nadar de costas.

Sem pestanejar – lembrem-se: jacaré não tem pestana – ele grita: “bêbado, bêbado!”

“vêvazu é uuuu uu casss-ceeti”

Fico a pensar no preconceito de quem não tem o que fazer. Gosto de beber. Vodka. É a minha “cadela engarrafada”; já que também sou Vinícius (meu prenome é composto: Walter Vinícius). E os jacarés de Bombinhas vêm com este papo amarelado de critica sem qualquer razão. Não interfiro na vida dos outros e sou incapaz de entrar nesta pequenez das fofocas que reviram a cidade. Acho que o que tem a ver com a calça são estas novelas, onde todos sempre tramam contra todos e que todos assistem. Novela é pior do que vodka: desse quadrado e dá uma ardência!...

Portanto, no dia seguinte, sem qualquer pista, o bêbado está mais pra equilibrista, na tal da ponte que nos desune. E lá está o réptil indefinido, insistente: “bêbado, bêbado!”

“vê-e-vazu é bôo-o-zê”

Não há muita água no canal, devido à quantidade de lixo que os habitantes do município degustam na mata desflorada. Porém, todos sabemos que jacaré no seco (deles) anda; ao contrário dos ônibus, caminhões e simpatizantes que, em Bombinhas, atolam. Coisas da Administração Púbica. O que me traz um velho deitado às margens da História retrógrada do Brasil: “Como se mede um burro? Médici da cabeça aos pés”.

Em fim, o boêmio disfarçado de bêbado, revoltado com o papo do jacaré, antes que ele assuma, mete-lhe a mão na goela abaixo e revira-o do avesso.

“Zih avu-vu-vóra, zacaré? Zala zi nobu”

O jacaré – que não perde a linha, apesar de se defender com o rabo –, manda ver:

“Dôbabe, dôbabe, dôbabe...”