UM POUCO DE MIM
Sou um homem com uma história. Com uma vocação. Com uma missão. Construídos a base de duras perdas e frustração. A primeira perda e a grande frustração foi a relacionada com meu pai quando eu tinha apenas um ano de idade. Perda, porque ele morreu ferrado por um peixe chamado arraia. Frustração, porque não tive o privilégio de chamar-lhe de papai. Mas foi isso e tudo o que vivenciei até agora que me fez ser o que sou.
Vim ao mundo num lugar distante, mas lindo, chamado Bacuriteua, no município de Marapanim, estado do Pará. Vivi em Bacuriteua até meus oito anos. Depois fui morar com uma família em Belém do Pará. Foi no seio dessa família que aprendi o que é solidão, o que é trabalhar desde cedo; o que é apanhar surras terríveis, sem entender porque se está sendo punido. Mas também foi lá que aprendi o que é não desistir de seus sonhos e a transformar dificuldades em possibilidades.
Aos dezessete anos decidi sair dessa casa – e, sem lenço e documento comecei um longo e difícil caminho em busca de meu ideal – ser GENTE!
Aos dezoito anos fiz de Jesus Cristo, meu ideal, meu Mestre, meu pai, meu norte seguro. Foi Ele e Seus ensinamentos que me ajudaram a sair de meu cárcere emocional e ter mais esperança e a certeza de que o sofrimento não é eterno.
Aos vinte anos vim pra São Paulo, onde começaria a escrever mais um capitulo de minha história. E nesse processo sofri de depressão, de complexo de inferioridade, sentimento de abandono, dificuldade de dizer não, codependência, solidão afetiva, mágoa, raiva, ressentimento, ansiedade, tendências suicidas e tantos outros sintomas emocionais que nos impede de ver, ouvir e compreender. Mas também foi em São Paulo que me libertei de todos esses sintomas penosos, através de psicoterapia, leitura de muitos livros e freqüência ao Grupo de Neuróticos Anônimos. Além disse, como queria fazer a diferença decidi enveredar pelo mundo acadêmico, comecei por graduar-me em Teologia, na busca de procurar entender o homem na sua relação com o transcendente – Deus; em seguida dei um passo a mais, desta vez foi graduar-me em Filosofia, agora era vez de procurar entender como se chega ao conhecimento. Minha mente inquiridora queria mais, é hora de graduar-me em Pedagogia, pois queria saber como se dá o processo de aprendizagem. Seguindo o mundo acadêmico, ainda me especializei em Estudos Brasileiros e em Didática para o Ensino Superior. Mas em meu peito ardia o desejo imenso de procurar entender como se forma um problema emocional, como isso pode afetar os pensamentos, sentimentos e comportamentos. É hora de graduar-me em Psicologia (Bacharelado em Formação de Psicólogo Clínico). Agora o quadro está completo, como me tornei um homem academicamente completo também.
Durante toda a minha vida fui colado frente as mais diversas situações muito doloridas, mas ricas em aprendizagem. Afinal, desde cedo eu havia aprendido que “não existem problemas, mas oportunidades”.
Frente a todas essas situações aprendi:
Tudo muda e acaba.
As coisas nem sempre acontecem de acordo com o planejado.
A vida nem sempre é justa.
A dor faz parte da vida.
As pessoas não são amáveis e leiais o tempo todo.
Que se não cuidarmos de nós mesmos, os outros nunca podem fazer o suficiente para nos tornar feliz.
Que na família humana não existem crimes imperdoáveis.
Que todos nós erramos. E acho que todos nós queremos alguém que realmente nos ame o suficiente para nos dizer quando nosso comportamento é desagradável e, ainda assim, nos lembrar que nós temos valor.
Sofri a dor da solidão e da rejeição. Mas foi esse espaço de solidão na minha alma que me fez pensar coisas que de outra forma eu não teria pensado.
Plantei árvores, tive duas filhas Laíza e Lígia, escrevi um livro, tenho muitos amigos e, sobretudo gosto de ser feliz. Que mais posso desejar? Se pudesse viver minha vida novamente, eu a viveria como a vivi, porque agora estou muito feliz onde estou.
Meu “pai” adotivo quando sai de sua casa em Belém no dia 29 de dezembro de 1971, de forma firme e maldita pronunciou: “VOCÊ NUNCA SERÁ NINGUÉM EM SUA VIDA”. Olhando para tudo que fiz e sou, queria poder ter dito pra ele: SERÁ?
Por isso que, hoje, ciente de que nasci para estudar e ser psicólogo eu juro:
Que ao penetrar no íntimo de meus semelhantes,
estarei tentando compreendê-los e ajudá-los,
esforçando-me em dissipar-lhes os medos,
dúvidas e angústias.
Fazendo com que tenham em si mesmos o
controle de sua emoções e problemas,
para isso abrir-lhes o espírito,
auxiliando-os na conquista
de seus ideais de felicidade e realizações”.
“Direis naquele dia: dai graças ao Senhor, invocai o seu nome, tornai manifestos os seus feitos entre os povos, relembrai que é excelso o seu nome” (Is. 12.4)