O ATO HERÓICO DE PRINCESA FRANCISCA (UM FATO REAL)
Corria o ano de 1998.Eu,há pouco tempo formada em Direito, embora já aprovada no Exame de Proficiência da OAB/SP, ainda não advogava, pois procurava me aprimorar mais e mais para o exercício de meu mister. Para isso frequentava com assiduidade cursos, seminários, palestras, além de continuar a estudar muito.
Neste meio tempo meu pai Ramon Áureo que à época dos fatos contava com sessenta e um anos de idade e já havia se aposentado do Jornalismo,profissão esta a qual militara com galhardia, em uma era difícil conhecida popularmente como "Os anos de Chumbo".
Levantávamos cedo, e logo lá vinha ele com o jornal nas mãos dizendo:
_ " Se eu for esperar o zelador colocar "O Estadão" na porta as notícias ficarão velhas".
Eu, de meu turno replicava:
_ " Mas, então na hora em que eu chegar do curso as notícias já terão se transformado em relíquias!"
Bem humorado, ele então me respondia com um risinho que aflorava terno no canto dos lábios:
_ " Que parte do jornal você quer ler, minha filha?"
Sem titubear, eu asseverava:
_ " O Editorial".
Assim os dias iam passando de uma forma plácida, harmoniosa, sem que, contudo tal calmaria se resvalasse para a vala comum da rotina.
Em uma de minhas raras tardes ociosas, eu e minha mãe Yvonne aproveitamos a ocasião para convidar meu pai para um passeio a um famoso centro de compras paulistano. Ele, todavia, polidamente declina do convite afirmando estar um pouco indisposto.
Sem conseguir demovê-lo de sua decisão,acabamos por ganhar a rua,prometendo voltar logo.
Fazia um pouco de frio e por esta razão meu pai decidiu pôr um pouco de água a ferver com o fito de preparar um chá preto. Esperando pelo ponto certo, papai senta-se no sofá da sala e liga o televisor. Como estivesse fazendo uso de medicação para combater a hipertensão ele começa a sentir uma forte sonolência , pouco a pouco vai se recostando na "cabeceira do sofá" e por fim adormece.
De repente é de súbito acordado por uma forte mordida em sua mão direita; Princesa Francisca nossa linda gata mestiça de siamês de fulgurantes olhos azuis dá o alarma! A sala está tomada por uma cortina espessa de fumaça, o ar está ficando quase irrespirável!
A outra gatinha, Pequenota Francisca, sua irmãzinha (trigadinha clara, cor de canela, mas também detentora de lindos olhos azuis) está quase desfalecendo, sem poder oferecer qualquer resistência!
Papai, então assustado abre a porta de seu quarto de casal, forra a sua cama com uma manta e leva as minhas doces criaturinhas para longe daquela zona de perigo. De quando em quando,ele adentra ao aposento para verificar se as gatinhas estão manifestando alguma
anormalidade clínica, a qual tornasse necessária uma consulta ao veterinário.
Após termos assistido a um filme mamãe sente uma intuição que nos leva prontamente a retornarmos à nossa casa. Lá chegando,papai emocionado conta com riqueza de detalhes o ocorrido; enaltecendo o papel decisivo desempenhado por Princesa Francisca, que muito inteligentemente houvera auxiliado a salvar sua vida e de sua inocente "maninha" Pequenota Francisca.
A fúria implacável da roda da vida já levou em seu redemoinho meu pai Ramon Áureo (falecido em junho de 2000), mas nós conseguimos continuar seguindo nossos passos por esta trilha às vezes esmaecida, permeada pelas saudades que sentimos dele e muito gratas à nossa fiel amiga e camarada Princesa Francisca.
No ano de 2004 um infausto acontecimento quase culminou em uma grande tragédia. Princesa é erroneamente medicada com um remédio exclusivo para uso canino e em choque quase nos abandona! Desesperadas, tarde da noite, eu e minha mãe a conduzimos rumo a um Hospital Veterinário, onde ela é socorrida por um "anjo de plantão" de nome Leticia Lavans, que com sua inquestionável competência aliada ao grande amor que dedica aos animais, colhe pleno êxito ao salvá-la da morte quase iminente!
Recordo-me de Princesa não mais andando,quase sufocada, pouco responsiva aos reflexos, com as pupilas muito dilatadas ,mal enxergando, com hipotermia e da ansiedade que tomava conta da equipe médica.
Ministrado o antídoto, Princesa lentamente vai se recuperando e em um dado instante ,eu com o coração desolado e alma exaurida caio em prantos.
Passados algum tempo do pronto atendimento dispensado à Princesa, uma outra médica veterinária, Dra Andreza Ávila assoma à porta, e preocupada com minhas lágrimas nos interroga:
_ " O que aconteceu, ela piorou?"
_ "Não doutora, respondo eu ainda chorando,mas agora de alegria; ELA ESTÁ ANDANDO!"
Princesa salvou-se e é hoje uma jovem "mocinha" de onze anos e meio de idade. Nunca se esqueceu de retribuir por centenas de vezes o amor que a ela devotamos,sempre se fazendo presente em nossa vida e também na vidinha de sua irmãzinha Pequenota; nos acalentando, estimando , brincando...
Creio sem sombra de dúvida que os animais são prêmios ofertados por Deus para que então nosso existir seja mais bonito e iluminado por uma respladecente luz que dos olhos deles é emanada!
* Nota da Recantista: Dedico com toda minha amizade e carinho esta crônica às Dras. Letícia Lavans, Andreza Ávila,Daniella Harumi Binoki e Geni e às minhas amigas Martha,Marcia,Analu, Taysa E. Cardoso, Mayara Siqueira, Daidy Peterlevitz, Maria H. Catarino e o ao amigos e colegas de profissão João Manuel e Marcelo, às minhas primas Marilia e Denise, e à minha tia e madrinha Dayse.,todas pessoas iluminadas que amam e lutam pelo bem estar animal!