OS MEUS SIGNOS COMBINAM

Quando chegou minha certidão de nascimento registrada em Lisboa, verifiquei que oficialmente se determinou que “nasci” em Portugal no dia 19 de junho de 2009. Portanto, do signo de gêmeos para efeitos lusitanos, fazendo-se a adaptação astrológica de estilo. Fui naturalmente consultar os astros, pois sei que seria interrogado a respeito, e a primeira coisa que descobri, com alívio, foi que o signo de gêmeos combina com o meu autóctone de sagitário, bastante satisfatório para o meu jeito de ser. Aliás, sou do último dia de sagitário, no Brasil, e, agora, penúltimo de gêmeos, em Portugal. Já não estou com minha identidade em crise, como chegara a pensar. Sendo um cético, nunca tinha dado muita bola para essas coisas de astrologia e, equivocadamente, até acreditava que o signo de gêmeos compreendia pessoas do tipo “bifacial”, como dizia Odorico Paraguaçu, na novela “O Bem-Amado” - gente de duas caras -, mas não é nada disto, o signo é cheio de virtudes e características interessantes. Para quem verdadeiramente curte a matéria, é claro. O curioso é que, quando pela primeira vez publiquei este texto, um velho companheiro protestou porque não aceitava este negócio de "acreditar" em signos zodiacais. Ora, a gente responde pelo que escreve e não pelo que alguns leem. A dupla cidadania era desejada, principalmente em função de filhos e netos, mas dispensava e dispenso a dupla personalidade. Continuei a pesquisar, agora para ver a compatibilidade com leão, já que minha mulher é leonina, do primeiro decanato. Seguro morreu de velho. Num dos textos examinados, constava que gêmeos só combinavam com eles mesmos, porque eram muito egoístas e que se amavam acima de tudo. Fiquei com vontade de processar os autores por injúria e difamação, mas não estava em Portugal e, por estas bandas, acho que redundaria em uma "carência de ação". Além do mais, tem muito charlatão nesse meio e é preciso ampliar estudos e debates. A grande maioria dos ensinamentos astrológicos é no sentido de que gêmeos e leão combinam - cada “astrólogo” com uma versão diferente para justificar a sintonia. Não importa muito, pois este probleminha, se houver, fica agendado, como disse, para terras d’além-mar.

Quando judicialmente corrigi o nome de família com vistas à dupla cidadania, houve oportunidade para que considerasse fatores numerológicos;não me empolguei. Não sou supersticioso. Mas tenho minhas manias e coloquei um "de" antes do Matos, porque achei que o nome original, com um só "t", não faria jus ao esforço épico e transatlântico de meu avô José Simões; era preciso dar um toque mais sofisticado no apelido de família, ao menos para os pósteros. Baita confusão, em suma: tenho duas carteiras de identidade, dois nomes. O nome correto não é nem mesmo este que uso no Facebook, mas é melhor deixar como está.

Na verdade, a questão zodiacal é interessante. Você acha isto uma bobagem? Eu também acho, de fato, mas fanatismo religioso, ideologia, clubismo exacerbado, bairrismo, xenofobia, também são. Enfim, não sigo, nem de longe, a bíblia astrológica, mas não sou indiferente, assim como respeito os arroubos do delírio imaginativo ou das circunvoluções da alma. É como diz o incrédulo, com a perna bamba: “Yo no creo em brujas, pero que las hay, las hay.” O pior é que o tempo passou e documentos e passaporte já venceram e vou levando a coisa toda numa boa, sem estresse, com aquele otimismo incurável do sagitariano, certo de que na hora "H" tudo se resolve. Apesar dos pesares, não cogito deixar o Brasil, mesmo que eu tenha de apagar a luz. Pois, pois.

José Pedro Mattos Conceição
Enviado por José Pedro Mattos Conceição em 08/07/2009
Reeditado em 04/09/2018
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