ÍDOLOS NUNCA MORREM
Assim como Elvis não morreu, também Lennon, Ray Charles, Sinatra, Gardel, Piaf, Elis Regina, Vinícius, Tom Jobim e Michael Jackson, agora, continuam em nosso imaginário artístico e no coração de cada fã, milhares, milhões deles. Assim são os ídolos – indestrutíveis e imortais – ainda que tenham pés de barro. A vida pessoal das grandes estrelas geralmente é complicada: glória e fortuna são como fantasias sexuais, ótimas para o cultivo, mas inadequadas para que experimentemos toda a explosão de sua intensidade. Michael Jackson não é ídolo de meu tempo, propriamente, mas ninguém pode ser refém de antigas memórias e sempre estive atualizado, acompanhando o surgimento e o apogeu de sua carreira artística, desde os anos setenta. Por sorte, não era mais jovenzinho, porque não conseguiria imitar a sua ginga de balé moderno, aquela dança de rua, de gueto, quase de circo ou de competição olímpica. Foi um artista realmente inigualável, cujas apresentações arrebatavam os mais empedernidos. Creio que ninguém vendeu tantos discos, aliás, sua morte de algum modo coincide com o fim da era do disco, em vista dos novos meios de difusão musical. Infelizmente, Michael enfrentou momentos deprimentes de vida, que atingiram sua carreira comercial. Foi o excessivo peso da fama sobre os ombros de criança humilde e carente, arrancada subitamente para os holofotes. Mas a Terra do Nunca, ilha fictícia de Peter Pan e de Michael, pode ser também vista como a Terra do Sempre, das melhores lembranças que os grandes astros conseguem legar ao encantamento de todas as gerações. Morre o homem, não a lenda. O homem fraco e sofrido que pecou e voltou ao pó não é a estrela que nasceu predestinada e que não se dissolve na terra, porque deve seguir luzindo no firmamento. O maior artista pop do mundo, que misturou soul, funk e rock como ninguém, não resistiu mais do que meio século ao choque térmico do céu e do inferno de suas passagens. Voltou para a Terra do Nunca e ficamos com sua obra