Um certo Jovem

Parei um instante, fechei meus olhos, respirei fundo. Havia me lembrado de um jovem brilhante e cheio de vida que desafiou seu destino em troca de nada, apenas não aceitava as coisas como eram, não tinha medo de mudar, inconseqüente, imprudente, cabelos médios encaracolados, roupas, o que tivesse disponível, idéias, até as que nunca estavam disponíveis, prazer, até onde o corpo poderia suportar. Ideais, crenças e amor, levava ao pé da letra a velocidade a qual se propunha a viver, sem apegos ou melindres com as conseqüências impostas pela vida e sua contra proposta. Forte, sem medo, com todo o espaço no peito aberto para encaixar amores, sabores, dores e assim ir em frente descobrindo seu caminho seja qual fosse. Quebrando barreiras ao som do bom e velho rock, olhos com brilho de vencedor, sem limites, sem barreiras, sem travas ou empecilhos, não, ela não acreditava nas palavras alheias, nas palavras ruins, nas péssimas e pessimistas opiniões sobre seu futuro, apenas seguia e sempre, sem troco algum no bolso, pagava para ver e acreditem, ainda pedia troco. É, suspirei fundo, parado e ainda com olhos fechados deixei escorrer uma única lagrima que neste mesmo instante escorreu em meu rosto desatando o nó formado em minha garganta, suspirei mais uma vez e abri meus olhos, quantas coisas e cores a minha volta, tantos preceitos, conceitos, valores aos quais mais uma vez ressalto, não os contabilizei em momento algum. Me tornei produto de tudo aquilo que não fiz questão nem se quer de reciclar, amadureci, assim dizem os mais teoricamente sábios, uma homem de valor, poder e comando, força nas palavras, sem pena e sem consciência emocional, prezo a tradição em patrimônios, matrimônios e assim deixando dentro de mim todos os demônios existentes dentro da sociedade comum e realista, não busquei mais o abstrato, não criei mais caminhos, apenas derrubei florestas para asfaltar meu caminho em direção a evolução medíocre de se tornar maduro, sábio, cortes, responsável e claro, um idiota. Carros, relógios, tradições, papeis assinados, juramentos em vão perante uma instituição ao qual nunca tive crença. Aceitei covardemente esta empreitada, que hoje, parado ainda, sinto, que aqui, dentro de mim, aquele rapaz, cheio de vida, ainda vive. Em batalhas medievais, muitos clamariam, novo reino estável... eu digo o contrario, vida longa ao antigo rei, que tome seu trono em minha mente e me faça perceber novamente o quanto vale não se prender a valor algum. Meus passos seguem acorrentados, mas vagarosamente, a revolução agita meu coração, e aos poucos, liberto minha alma, e me desprendo de toda esta realidade medíocre.