Sonhos

Quando os olhos fecham e o sonho toma a alma para a dança em terrenos férteis, com lembranças plantadas por todos os cantos, floridas em possibilidades e desejos incompletos, levando o corpo nu a loucura e a buscar no inconsciente os motivos quais levaram aqueles passos pela covarde estrada do esquecimento de quem prefere tentar apagar o que perdeu ou não, por simples e tola falta de coragem. Mas ali, enquanto os anjos guardam o sono e sonhos brilham e colorem a áurea, todo ser se completa e sente o poder de realmente tudo poder, voar, cantar, amar, o que for, tudo se pode, tudo se é possível, reviver o rosto que se foi, sentir o paladar daquele beijo, o toque no corpo, a volúpia púrpura em cores marcantes e lençóis pálidos claros e surrados, suados, a enrolar o corpo sobre o corpo que em musica harmonicamente construída para cada suspiro, movimento ou pensar, é orquestrada nos sentidos involuntários daquele lugar. Desligar da carne, como no amor, deixar tudo, as dores, dissabores, o amargo e a labuta constante, para existir o bom do amor, marcar novamente as linhas nas palmas coladas uma a outra. Costurar linha a linha uma na outra, destinos ou historias intimamente ligadas. Como é bom, fechar os olhos, se entregar aos sonhos, quais forem, afinal, não existem sonhos impossíveis, basta acreditar e se jogar a imaginação que junto ao coração trazem a tona o gosto desejado e esperado, aqueles momentos outrora distantes ou julgados impraticáveis, impossíveis, brotam e florescem na mente de quem assim o quer. Tento saber o porque de tanta tolice, porque suprimimos a realidade e a transformamos em sonhos palpáveis somente em sono, quando o escuro abafa a luz e o silencio cala o mundo para que possamos tentar viver o que não acreditamos ser possível durante a vida que corre e escorre pelas vielas da existência. Não critico, amo sonhar, acredito nos meus sonhos que me fazem mágico, voador, encantado e me dão coragem de acordar, mas gostaria de saber porque não criamos, cultivamos tais sonhos no dia a dia. Tanta lógica, tontas razoes e motivos que justificamos hora a hora, vida a vida, os fracassos do amor, do sentir, das dores. Enquanto não acordo, sonho com a possibilidade de trazer o sonho para minha realidade, fundir um a outro da forma que as palmas costuraram um dia suas linhas e destinos, não mais acordar ou se quer precisar adormecer, transformar tudo em uma plena e integra felicidade constante, onde o arrependimento não há, pois os caminhos são tomados como o ar que se respira, alimentando a vida em sua essência, de amor. Amanhã acordo cedo, espero que traga destes sonhos, no colo de minha palma, entre punhos cerrados, uma pequena semente, para plantar em meu dia, parte do que não é realidade, e começar então, parte do sonho que é realidade, sem pudor, sem arrependimento, e então, saber que agora, não poderia mais me entregar tanto aos sonhos da imaginação, pois haveria de regar aquela semente em meu cotidiano, já transformado. Agora, sonho, realidade, imaginação, seria então uma coisa só, aquelas palmas, não estariam ali, mas então, no tronco brotado de tudo que sonhei, ergueria meu corpo contra a inércia da covardia, e do troco na face ou a fé no amor, buscaria até onde for, teu solo, dali viria contigo, se não, deixaria uma semente de meus sonhos agora reais, não mais carregaria a duvida entre os dois mundos, seria então, completo, e ao adormecer, apenas continuaria minha realidade, e ao acordar, sempre, continuaria meus sonhos.