DIA DOS NAMORADOS MACABRO

"My Bloody Valentine” foi um filme de terror canadense do início da década de 80, que surgiu na esteira da “Sexta-feira 13” e de outros do gênero, lembram? Desde então, a cada dia dos namorados, possivelmente só pelo título, lembro do filme e das confusões que alguns faziam com a gramática: macabro era o dia, não os namorados, apesar de que, no filme, as coisas até podiam confundir-se. Desde 10/06/2009 - com um melhoramento aqui, um "pioramento" ali - venho publicando esta crônica. No dia 14 de fevereiro, nos Estados Unidos da América, em Portugal, França e em muitos outros países, comemora-se o Dia dos Namorados, que, no Brasil, basicamente por razões comerciais, acontece em 12 de junho. É o nosso Valentine's Day. Devo dizer que a época escolhida é boa, no inverno e distante dos festejos momescos, que, geralmente, pouco têm a ver com relações românticas e mais delicadas. Nossos comerciantes não foram bobos. Costumo também saudar o 14 de fevereiro, pois, com a globalização galopante, vamos acabar comemorando as duas datas. No meu tempo, por exemplo, só se conhecia o Dia das Bruxas pela literatura; hoje, o dia 31 de outubro está virando evento social importante em vários recantos do país. Ademais, nosso Papai Noel tem a cara típica do inverno.

Bem, uma crônica nasce assim mesmo: uma data festiva, uma recordação qualquer, idéias e sentimentos que pedem passagem. Num site de relacionamento, é impossível não registrar a ocasião sem uma palavra que tente prestigiar as relações afetivas que existem, existiram ou existirão para quase todos seus participantes. Poucas vezes na vida sofri de solidão, mesmo nos anos em que não estive afetivamente sintonizado. Estar sozinho é uma coisa, solidão é outra. Não cito isto como vantagem, simplesmente é jeito de ser. Estar sem par, "single", não é estar solitário, assim como todos sabemos que muitos acasalados sofrem de solidão. Existe muita solidão no coletivo. Estar junto é algo sutil, interior. Todavia, ainda que não pareça, ficar só pode ser uma conquista redentora. De qualquer modo, quero desmistificar, para quem está desacompanhado, aquela ligeira sensação de “excluído” ou de "diferente" que se pode experimentar. Não seria propriamente melancolia, talvez um Natal sem presente, um aniversário em país distante, uma visita muito aguardada e que falhou, a grande festa que não houve. Mas tudo tem seu lado bom, o importante é saber explorá-lo. A vida é dinâmica, um dia é da caça, outro do caçador e por aí vai. Aos que estão realmente curtindo a sua cara-metade, um "salve" às delícias de um dia especial de reafirmação de compromissos e afetos. Relações amorosas são grandes obras que realizamos na vida - com todas as limitações próprias do fator humano e aos inevitáveis desacertos inerentes ao convívio. Não se deve condenar o espírito comercial que badala a ocasião, por que liturgias e rituais são importantes para que o homem desperte, se anime e valorize as “pequenas grandes” coisas, que constituem, afinal, a vida e seus encantos genuínos. Aos que sentem saudade, convém dizer que as boas recordações são para a eternidade. Aquilo que se viveu com amor ainda é vida dentro de nós. O que não foi reciprocamente valorizado não merece nossa emoção; o tempo do amor depende da gente e supõe entrega, alma de quem projeta em conjunto. Nestes tempos de pandemia e distanciamento social, a comemoração pode ser limitada, mas nada afeta o calor dos sentimentos. Sobrevivemos às guerras, aos vírus e às catástrofes, ainda que nem todos. Assim caminha a humanidade. Aos enamorados - protagonistas do evento - que a música seja ainda mais sedutora e inebriantes os beijos com gosto de vinho, chocolate ou champanha.

José Pedro Mattos Conceição
Enviado por José Pedro Mattos Conceição em 10/06/2009
Reeditado em 12/06/2020
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