FISGADO PELO AMOR VERDADEIRO
Quando me preparava para pescar,
bem na beira da estrada, junto a um rio antigo,
encontrei uma pequena e nova índia terena.
Mal consegui me ajeitar, tentando me premiar
com algum curimba desavisado, quando ela falou:
-Tio, sabia que eu já peguei peixe aqui?
É mesmo, disse eu a ela, preocupado pelo
seu desacompanhamento.
-É, tio. Peguei. Peguei um piau!
Um piau! Puxa que bom! E os seus pais,
pescaram também?
-Não tio, eu pesquei sozinha!
E você vem sempre sozinha por aqui?
-Venho.
Não tem medo?
-Não, eu nasci aqui. Não posso ter medo do
lugar onde nasci.
Esta certo, mas...e os seus pais, seus irmãos,
seus parentes? (parece que já tinha fisgado um peixe
mas não podia deixar de dar atenção à indiazinha).
-Sabe, tio, foi todo mundo pra cidade.
Cidade? E quem cuida de você?
-Minha avó. Mas ela já tá muito velha.
E o que você pretende fazer?
(agora tinha certeza que o peixe estava fisgado,
era só uma questão de cansar o danado).
-Eu? Não sei direito, acho que vou ser médica!
Médica? Como médica? Você é uma pequena índia
Terena que mora por aqui, sem pais, sem irmãos e
que só tem uma velha avó pra cuidar?
-É por isso, tio.
Por isso, o quê? ( realmente tinha fisgado o peixe e
parecia ser um piauçu, e ele é brigador).
-Eu quero ser médica pra poder cuidar da minha avó!
Então eu parei e chorei. O peixe que se danasse.
E me perguntei: como pode ter gente tão pura no mundo?
E como tem gente tão desesperada pra jogar uma
bomba atômica no mundo?
Será que eles não tem uma avó velha e carente?
Pra finalizar, o peixe escapou da minha isca, mas eu
fui fisgado pelo amor verdadeiro.