Paixão
Um leve perfume, rosas, tulipas, flores do campo, o capim molhado, leve, suave, mas, agride como um nocaute sem chance de revanche. Paixão. O vicio latente, o amor corrupto e sujo, vulgar e fugas, as surdinas, as espreitas, o pudor que se liberta na sombra do perigo de se ter o que não se pode, e assim o fazer, sentir o gosto da heroína nas veias, e ao sinal de intoxicação se afastar lentamente, com o cheiro daquele sabor impregnado ao paladar que já aceita a rotina, mas sente a falta do picante, do extenso sabor de sentir a alma gozar ao frio da fraca carne tremula que sucumbe ao mais breve desejo, a sim, a paixão. Atentamente observo meus instintos, meu gosto, minha preferência neste mundo, que me atrai e trai, que trai, e logo, me atrai, atrás do trago maldito, do vicio, do sustento da alma, que preenche as pupilas negras e absolutas do meu desejo, demoníaco poder que toma toda a sede e a transforma em fome, que se deita ao lado, e trás junto a luxuria, todo primor de tato indevido que sabe onde toca, pega certo, intenso, profundo, leve se necessário, penetra fundo, forte e sem fim onde os sonhos dormem, paixão, é, pura paixão. Cenário de vida, morte, alegrias e tragédias, palco para o amor, festival e carnaval para toda dor, poesia para atentos, lacunas secas no jornal diário da tarde para leigos, paixão. Entre os pequenos espaços apertados de toda entrelinha busca responder o não compreendido, o vazio do ser, a falta do amor, a busca por este, persegue a fraqueza e ignora a força e a vontade, não deita se não for por volúpia ou desdém de quem a seduz, ou por ela é seduzido, assim é, paixão. Sem fim, começo, mas com todo o meio possível, segue como se nada acabasse, como se as conseqüências não estivessem por vim, e quem sabe, não estão, sem causa e reação, sem ação e efeito, acontece como a flor que desabrocha, como o sol de todos os dias, como o desejo e o hormônio, brota no terreno infértil, floresce e brilha o campo amargo do incêndio, queima em explosão o que se tem para dar, consome a carne, e como vem, vai, e deixa novamente o perfume e um corpo no chão, nocauteado ao seu capricho, ressalto, ao leigos, apenas um corpo no chão, aos atentos, foi safra que deu e se foi, ali, muitas sementes por vir e semear novas e mais novas safras, entre o perfume e o nocaute, fico com os dois, afinal, paixão.