TRES ENSINAMENTOS
 
PRIMEIRO ENSINAMENTO  :  VISANDO O FUTURO PROFISSIONAL:   



"TININHO, (esse é o meu apelido familiar), aqui no cartório, bem como na vida de qualquer cidadão, tudo o que se faz tem por objetivo preservar o futuro. Se você se dedicar, procurando aprender e fizer a sua parte bem feita com dedicação e zelo de acordo com os procedimentos e pontos de vistas jurídicos tudo acabará bem. Em caso contrário, se fizer errado certamente poderá ter consequências irreparáveis e drásticas que o fará lamentar-se muito a sua vida inteira".
                              Estas palavras foram ditas pelo meu primeiro patrão Sr. SEVERINO FERRAZ COSTA (in memorian),  homem de um coração generoso e que me ensinou muito no decorrer da minha vida cartorária. Tratava-me como se eu fosse o seu filho, com orientações e ensinamentos nobres e perfeitos. Por essa razão é que desde aquela época até hoje eu sempre o dedico as minhas orações  e vibrações positivas, com muito amor e respeito.
Há mais de cinquenta anos, ou seja: em dezembro de 1.958, quando iniciei a carreira profissional no Cartório do Primeiro Ofício de Notas, Registro de Imóveis e Anexos do Judiciário lá na minha querida São Sebastião-SP ele, senhor Severino Ferraz Costa era o Tabelião (serventuário da justiça). Para me incentivar disse mais: Aqui no cartório você pode até não ganhar muito e nem o que desejaria, mas aprenderá mais do que possa imaginar, pois o cartório é uma verdadeira escola. Todos os documentos, escrituras, certidões, registros que aqui se faz, bem como os atos jurídicos no cartório praticados surtirão seus efeitos no futuro. Muitas vezes até por centenas de anos.
Eu concluo dizendo: Benditos e gratificantes foram essas palavras e tantos outros conselhos que ele me deu. Como Deus É Justo e bom pra mim. 
 
SEGUNDO ENSINAMENTO:  TER E PRESERVAR UM AMIGO

 
Na mesma época meu pai BENEDITO FAUSTINO DA SILVA " in memorian ", este o melhor de todos os amigos, verdadeiro e meu ídolo, com toda sua ignorância, humildade e simplicidade, mas inteligente, já que era um matuto analfabeto e de mãos calejadas pelos instrumentos (pás, enxadas, enxadões, cavadeiras, foice, penados e tantos outros) que usava na roça, orgulhoso por eu ter tirado diploma do grupo escolar e ter iniciado a vida profissional lá no cartório me disse:
 
"TININHO", o homem pode não ter nada nesta vida de provações aqui na Terra. Pode não ter dinheiro, jóias, fortuna alguma e nenhum bem material, tal como palacetes, carros, navios, terras, aviões, etc., mas se tiver bastante estudo (na época concluído o ginásio), uma profissão digna, mesmo que seja de lixeiro, de carteira assinada e com garantias e pelo menos um amigo leal e sincero em quem possa confiar jamais passará necessidades e nem perecerá. 

TERCEIRO ENSINAMENTO:  NÃO CRIAR OBSTÁCULOS ANTECIPADAMENTE
 
Certa vez, examinando uma escritura que versava sobre um imóvel a ser registrado no cartório onde eu trabalhava, por inexperiência, mas com certa arrogância e querendo mostrar serviço, açodadamente, sem mesmo ler todos os documentos anexos e os mínimos detalhes decidi e emiti uma nota devolutiva com as exigências que eu entendia necessárias a escritura fosse registrada.
Devo explicar que naquela época se registravam os documentos e não os imóveis como se faz atualmente. Com o advento da Lei 6015/73, regulamentada pela lei ainda 6.216/75 (Lei dos Registros Públicos) em vigor atualmente, todos os títulos que dão entrada nos cartórios registrais, são registrados e praticados os atos jurídicos em relação ao objeto ou a pessoa e não o documento em si.
Pois bem. O meu patrão, doutor ALVARO BARBOSA, Oficial Maior do 11° Registro de Imóveis de São Paulo onde eu exercia o cargo escrevente me chamou a parte e falou:
"CLEMENTINO, nunca coloque uma ponte onde não haja um rio, um córrego ou um vão qualquer". Criar obstáculos sem motivos plausíveis não é próprio de um escrevente inteligente. Disse-me isto para explicar que eu não devia fazer exigências, criar empecilhos para o registro de um determinado documento, na prática de um ato registrário, antes de examiná-lo com todo o cuidado e rigor; o que na prática era o mesmo que criar obstáculos antecipadamente, sem motivo justificado.
CONCLUSÃO:


Até hoje me lembro destes ensinamentos e procuro segui-los a risca. É o que me mantém sempre alerta e pronto para aprender com quem sabe mais. Não somos e nunca seremos o dono da verdade. Este é o motivo pelo qual certamente me coloca no auge da alegria de viver, de servir e seguir sempre trabalhando, produzindo e crescendo espiritualmente. Nós, pobres seres mortais, precisamos reciclar os nossos espíritos durante as vinte e quatro horas do dia por toda vida.