Como fundar uma Religião
Fátima Irene Pinto
 
Primeiro certifique-se de que nasceu profundamente carismático, com uma inteligência e uma liderança muito acima da média.
 
Certifique-se também de que tem escrúpulo zero, e uma força descomunal para passar por cima do seu próximo a fim de vender-lhe preceitos e receber em moeda corrente, tanto mais cara quanto mais caro for o preceito oferecido. Isto deve parecer ao aspirante como uma dádiva inestimável, que vale todo e qualquer investimento.
 
Prepare-se. Leia e aprenda a estar familiarizado com todos os ramos da Filosofia, da Psicologia, da Ciência, da Arte e, principalmente, completamente familiarizado com todas as doutrinas havidas até hoje, desde as ocultas como as oficiais, esotéricas e exotéricas. Sua cabeça deve estar apta para batê-las todas no liquidificador, pois é com elas que você vai fundar a sua.
 
Escolha uma vertente original: pode ser new age, old age, zen, indígena, não importa. Você tem um leque imenso de opções, desde Ufos até o poder do pensamento positivo, ou a cura pela imposição das mãos ou por uma determinada erva milagrosa, ou a vibração de determinados sons combinados com cores....Seja criativo. Não copie dos outros, senão será acusado de plágio e perderá adeptos.
 
Após sedimentar bem as bases da sua religião, escreva um livro a respeito e consiga o respaldo da mídia.
 
Então parta para a pregação, de preferência em terra de cego, onde quem tem um olho é rei.
 
Não se esqueça de estabelecer honorários, afinal esta é a sua empresa, digo, religião.
E não seja modesto, afinal, as pessoas estarão comprando a cura para todos os males, a solução para todos os problemas, uma cadeira cativa no céu (que você inventou) e mexa bem com a vaidade delas, cobrando caro pelo "Conhecimento" que as distinguirá do resto dos ignaros mortais.
 
E sonhe alto. Obras faraônicas. As pessoas costumam pensar que quanto mais luxuosa e faraônica é a obra, maior é o poder do deus que nela habita.
 
Mas saiba, Sr. Fundador e futuros prosélitos:
 
- o maior Rei, dentre todos os reis, nasceu numa manjedoura e foi embalado por trapinhos que sua mãe secava nos pés de alecrim.
- não juntou tesouro algum para si e deu de graça, o que de graça recebeu de seu Pai.
- não tinha uma mansão para morar, antes era hospedado nas casas humildes de seus amigos pescadores.
- virou as mesas dos vendilhões do templo, como que a deixar bem claro que a casa de seu Pai nada tinha a ver com "Comércio&Vendas" nem com o poder, nem com o vil metal e que era impossível servir a dois senhores.
- bateu de frente com os doutores da lei, aqueles que nem entravam, nem permitiam que os outros entrassem.
- adentrou Jerusalém, onde era esperado por uma multidão, montado num jumento - símbolo da humildade.
- foi muito claro quando disse: quem quiser vir depois de mim, tome a sua cruz e siga-me.
- foi o único que imolou-se de fato, trocando a própria vida pela sua vida.
- deixou, além de curas e milagres que até hoje desafiam todas as leis e toda a ciência, preceitos humanos exequíveis, realistas, além do inigualável sermão da montanha e os sete preceitos do Pai Nosso.
 
É lastimável que as pessoas continuem buscando fora, o que sempre esteve dentro.
 
E é só por isto que as seitas nascem e vingam feito mudas de grama, ou feito joio no meio do trigo.
O Sublime Nazareno foi claro: o Reino de Deus está dentro de vós.
E para achá-lo dentro de nós, não precisamos de templos faraônicos nem de vastas, densas e complexas leituras, nem de fazer carreira dentro de templo algum. Este é um caminho "solo".
E, além do mais, só é revelado aos mansos e aos puros de coração, aos que têm sede e fome de justiça.
 
Quando as pessoas acordarão?
 
" Vinde a mim vós que estais cansados e sobrecarregados e eu os aliviarei".
(Jesus Cristo)
 
 
 
 
 
Descalvado - SP -
Brasil 
22.05.2009
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fátima Irene Pinto
Enviado por Fátima Irene Pinto em 22/05/2009
Reeditado em 31/07/2011
Código do texto: T1608825
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