Parabéns, Fortaleza
Dia 12: show de aniversário de Fortaleza, 283 anos. Imaginava Fortaleza mais velha, mas é bela. Mona Gadelha, por falta de uma Mona Lisa, introduz o show. Mona Gadelha é a imagem de Fortaleza, juventude, vitalidade da juventude, e beleza.
Ednardo entra e comove o público por quase duas horas. Ednardo não deixou Fortaleza: leva-a no coração. Fortaleza não deixou Ednardo: canta com ele as suas músicas, leva Ednardo no coração.
Mona canta blues. Ednardo, mal entra, sente-se a voz do cearense. Linda a “Aurora” de Ednardo: “Abre as janelas, manhã.” Enfim, temos a presença da poesia. Imagens palpáveis, plásticas. Canta a bela “Calu”, de Humberto Teixeira.
Gostei do “Dono dos teus olhos” – ritmo e imagens fortes. Juntando-se a outras composições, comprova-se o gosto de cantar a dor de cotovelo. Não por acaso, uma das músicas chama-se “Lupicínica”, lembrando Lupicínio Rodrigues, que era o poeta de dor de corno. Grandes poetas, Lupicínio e Ednardo.
Outras músicas: “Reizado”, “Art. 26”, “Amor de Estalo”, “Longarinas”, “Terral”, “Carneiro”, “Enquanto engoma”. O povo, uma praia apinhada de admiradores, vibrou com “Maresia”, “Manga Rosa”, “Doroty L”Amour” e, por fim, “Pavão Misterioso”.
Um senhor cheio de graças (não era a Virgem Maria, mas estava cheio de graças) atrás de mim – um gozador?, figura popular pitoresca? Ednardo dedica uma música ao Augusto – seria o irmão, ali perto de mim? Depois nova música, lembrando muitos artistas que mantiveram de pé a arte em Fortaleza, aglutinados no festival Massafeira – em especial o Augusto Fontes, não o companheiro alegre a meu lado, mas o grande compositor e animador cultural.
Massafeira pode ter sido apenas um festival, mas fez história – e a História merece ser respeitada. Ednardo merece ser e é respeitado: – a sua empatia com o público é grande, está na pele, está nas veias como seiva.
As ondas do mar cantam louvando Fortaleza. O vento canta fazendo dançar as folhas das árvores. Um pavão misterioso ajuda a cantar com o mistério do seu voar. Alguma coisa não é certa não, mas a beleza persiste no canto e no voo do pavão chamado Ednardo.