É dando que se dá, pirada em pó

Eu ficava roendo as unhas de inveja daquela menina vizinha minha com boneca nova a correr pra cima e pra baixo.

Meu brinquedo era olhar ela correr.

Eu a via de manhã.

Eu a via de tarde.

À noite eu não a via porque morava numa viela escura e eu dormia.

Eu pensei em dizer que queria ser a boneca dela.

Mas achei feio que ficou um caco o fato do dizer assim repentinamente sem mais ver.

Até poruqe, ela carregava a boneca dela (outro caco, de fato) pelas tranças, como quem carrega uma réstia de cebolas e disso eu não gostava, que eu preferia batatas fritas que restavam.

E já uma vez eu beijei a bochecha da boneca dela (olha o caco, de fato, de novo) e a boneca não fez nada, mas ela ficou vermelha, enrubesceu feito rubi.

Rubiácea e quente ficara assim como ao fogo levada.

Eu da breca feita fiz o que disse porque fazer, naquela idade, era só querer e sair correndo pra não apanhar.

Agora, se vai fazer, apanha e nem se consegue mais correr, porque o atraque pega na mão, no pé e sapeca as tranças numa festança que dá lambança de mais de dia, quanto mais de noite por amor por ela.

Eu nem disse nunca que amo ela.

Nem pense nunca nisso.

A s galinhas também tem rins e fígado.

Então, na tijela, terina ou frasco pontudo, vi que vinha vindo um trem e passou rente fungando pelo meu nariz um dedo em pó.

Branco de neve esse campo, num cavalo tordesilhas e eu tordilha dessa situação, quando o zaino ficou baio e a égua pocotó combinou-se com o créu e cruz credo, deu pro cramunhão na subida da ladeira, descendo que era pura folia, em carrinho de rolemã, o vestido levantava e aparecia a calcinha e todos ficavam esperando que a gente descesse, mas nós mandávamos a boneca... eles uns trouxinhas.

Nós entrouxadas de roupas de inverno, as mãos correndo os corpinhos miúdos pra se esquentarem de lambuzo.

Juli Bauer
Enviado por Juli Bauer em 14/05/2009
Código do texto: T1593035