Vou cuzico
O tempo não apagou de minha memória o motivo daquele encontro. Era um piedoso costume preservado pela nossa família de rezar o terço pra pedir chuva. A reza era feita aos pés do Cruzeiro que ficava na Fazenda do Pontal, onde moravam meus avós maternos, meus tios Vicente e Rosa com seus filhos ainda pequenos e a Chica, tão querida, não pode ser esquecida. Fazia parte da família.
Almoçamos mais cedo e cada um se preparou com entusiasmo para tomar parte naquele sacramental. Tínhamos três conduções à nossa disposição: a camionete de meu pai, a do Tio Vicente e o caminhão do Zico – irmão de Tia Rosa.
Cada um se ajeitou a seu modo e já estávamos de partida, quando alguém gritou para o Fernando, meu irmão, que parecia decidir qual condução seria melhor para um menino de oito anos:
- Fernando, aqui tem lugar para você!
Mas Fernando já se decidira:
- Pode deixar que eu vou cuzico!