Culpado
Até onde minhas mãos podem tocar? Até onde alcanço? Onde é o limite? Me contive até aqui após tanto saborear os doces e amargos da vida para ver que tudo que acreditei, virou pó e pedra diante de minha extrema covardia e quietude. Culpado. Não há outro veredicto. Eu no banco dos réus, minha alma e consciência no bando do jure, sem advogados, apenas minha culpa, meu remorso, minhas angustias, e ali, diante de mim, no palanque extenso que abriga a platéia deste julgamento, todas as passagens de minha vida, tantas, muitas, finitas. Como pude parar tudo, chegar aqui, deixar que o julgamento acontece se? Bem, aprendi ao menos isso. Que quando se para a vida, os amores, as paixões, os desejos e tudo o que o desconhecido nos pode trazer, deixamos que o julgamento chegue, e quanto mais cedo paramos, maior é o julgamento, mais extenso, mais culpa, mais discussões inúteis e prolixas que não nos levam a lugar algum se não ao nosso próprio julgo e fardo, criado a preguiçosas mãos calejadas de falta de coragem e covardia. Sim, se um conselho pudesse deixar, diria para que todos vivessem com intensidade suas vidas, sem se preocupar com o que pode acontecer caso um caminho errado vir a tona, é só um caminho, virão outros, tantos outros, e depois de tantos e tantos outros, deixar reservado um milésimo de segundo antes da partida deste plano paralelo a tantos outros que ainda carregamos, para tal julgamento, onde não haverá tempo de mais nada alem de subir ao banco dos réus e dizer com toda bagagem e gosto do universo, sem arrependimento ou dissabor, ir em frente ao que aguarda, e em alto e bom tom dizer a todos: Sou culpado. E não deixar margem para nenhum julgamento, pois a vida, curta, breve e deliciosa, foi feita para culpados, de tentar, viver, saborear e passar pela existência com conteúdo denso de amor e paixão, e não, não para os inocentes, breves e angelicais, que dedicaram a vida, a presenciar se não o seu, os julgamentos terceiros, na posição de promotoria, no fim, com pudor e remorso, de tentar o impossível, culpar quem já viveu, e assumiu a culpa de tudo isso.