O Sonambulismo de meu Avô

Meu avô paterno – Camilo – era sonâmbulo e, uma vez, ele se viu em apuros por isso. Ele e minha avó Mariazinha moravam com os 4 filhos no bairro Porto Velho – numa pequena e única casa que lá havia. Certa vez, apareceram três mulheres amigas de minha avó, pedindo para passar a noite em sua casa, pois estava tarde e não tinham como ir embora para a roça.

O único lugar disponível era a sala. Minha avó colocou colchões no chão e acomodou-as como pode. A casa, ou melhor, o barraco era bem humilde e nem portas havia a não ser a da sala e a da cozinha, mas ali elas se sentiram à vontade e cansadas logo dormiram. Uma lamparina ficava acesa a noite toda, pois se alguém precisasse usar o “pinico”, não cometesse algum “ato falho”.

Meu avô foi deitar preocupado, vendo aquelas mulheres ali na sala bem perto de seu quarto, sem nenhuma separação e as coitadas nem sonhavam com seu problema de sonambulismo. E não deu outra.

Lá pelas tantas, olha meu avô levantando e dirigindo-se para a sala. A claridade era pouca mas dava para perceber os vultos. Ele foi chegando e logo segurando nos pés das mulheres e falando que elas estavam afogando, querendo salvá-las. Elas, acordando assustadas, esperneavam e gritavam. Ele largava os pés de uma e pegava os da outra.

Mas com a algazarra ele acordou e foi “murchinho” para o quarto, onde permaneceu envergonhado até que o dia amanheceu, quando as mulheres saíram de fininho e foram embora!

P.S.: Dinho Camilo morava perto do Rio Itapecerica que corta, quase ao meio, a cidade de Divinópolis. Durante muitos anos ele transportou as pessoas em sua canoa, porque a única ponte que havia era distante e representava uma enorme volta para quem quisesse ir ao centro da cidade ou voltar para sua chácara. A senha era só gritar “Sô Camilo”e o eco chegava aos ouvidos de vovô que corria, todo solícito, e gratuitamente atravessava de canoa aquele passageiro. O Rio foi um grande marco em sua vida.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 16/05/2006
Reeditado em 27/05/2006
Código do texto: T157083
Classificação de conteúdo: seguro