Ocupados demais
Recebi esta semana um e-mail de um amigo de infância (dos que coloco no seleto grupo dos “amiguirmãos”), externando a sua angústia em constatar que as pessoas estão cancelando os encontros reais por conta da comodidade da rápida comunicação via internet. Ele, que mora em Belo Horizonte, lembrava a mim (em Viçosa) e ao outro remetente (nosso amigo em comum residente em Araraquara-SP) que estamos fazendo da nossa amizade um contato virtual.
Num dos trechos do e-mail, meu amigo é enfático ao questionar se este seria realmente um traço marcante da nossa época ou seria um sintoma de uma imensa doença global: “não somos mais de carne e osso; somos figurinhas, fotos, palavras escritas numa tela? Nós, que tanto viajamos, nós que varamos noites, nós que vimos juntos o sol nascer; nós que compartilhamos sentimentos e pensamentos dias e noites afora. O que está acontecendo? Não quero saber de virtualidade, quero meus amigos de verdade. Não quero meus filhos crianças de playground, empinando pipa no ventilador e jogando bolinha de gude no carpete. Foi pra isso que tanto questionamos e lutamos?”
Seus questionamentos e ponderações são autênticos, principalmente porque nosso passado é uma credencial de nossos ideais de vida. Muitas vezes criticamos o modo de ser de certas pessoas que se afastaram de tudo e de todos para viver uma vida reclusa, pautada unicamente no círculo familiar. Pessoas que abdicaram de sonhos, de planos, muitas vezes para sofrerem calados pelo que deixaram para trás. Mais até: para se lamentarem sobre o que poderiam ter realizado, e não fizeram.
Alguns dias antes da chegada do e-mail desse meu amigo, recebi um outro (aqueles coletivos) que trazia uma mensagem sem autoria. Um texto um tanto apocalíptico, mas com trechos bem interessantes sobre o tema que abordo aqui. Ele começa assim: “satanás convocou uma convenção mundial de demônios. Em seu discurso de abertura, ele diz: ‘não podemos impedir os cristãos de irem à igreja; não podemos impedi-los de ler as suas Bíblias e conhecerem a verdade; nem mesmo podemos impedi-los de formar um relacionamento íntimo com o seu Salvador. Uma vez que eles ganham essa conexão com Jesus, o nosso poder sobre eles está quebrado. Então, vamos deixá-los ir para suas igrejas, vamos deixá-los com os almoços e jantares que nelas organizam, mas vamos roubar-lhes o tempo que têm, de maneira que não sobre tempo algum para desenvolver um relacionamento com Jesus Cristo’”.
A partir daí o diabo dá as seguintes ordens a seu séquito: “distraia-os a ponto de que não consigam aproximar-se do seu Salvador; mantenham-nos ocupados nas coisas não essenciais da vida, e inventem inumeráveis assuntos e situações que ocupem as suas mentes. Tentem-nos a gastarem, gastarem, gastarem, e tomar emprestado, tomar emprestado. Persuadam as suas esposas a irem trabalhar durante longas horas, e os maridos a trabalharem de 6 a 7 dias por semana, durante 10 a 12 horas por dia, a fim de que eles tenham capacidade financeira para manter os seus estilos de vida fúteis e vazios. Criem situações que os impeçam de passar algum tempo com os filhos. À medida que suas famílias forem se fragmentando, muito em breve seus lares já não mais oferecerão um lugar de paz para se refugiarem das pressões do trabalho. Estimulem suas mentes com tanta intensidade, que eles não possam mais escutar aquela voz suave e tranquila que orienta seus espíritos. Encham as mesinhas de centro de todos os lugares com revistas e jornais. Bombardeiem as suas mentes com noticias, 24 horas por dia. Invadam os momentos em que estão dirigindo, fazendo-os prestar atenção a cartazes chamativos. Inundem as caixas de correio deles com papéis totalmente inúteis, catálogos de lojas que oferecem vendas pelo correio, loterias, bolos de apostas, ofertas de produtos gratuitos, serviços e falsas esperanças (...)”.
Relendo o texto do e-mail coletivo (que apresenta outras sugestões do pai da maldade para ofuscar a atenção da humanidade), parei para enxergar com clareza a dimensão do que disse meu amigo. Estamos ocupados demais para notar de que é feita a nossa essência. Passamos a maior parte do tempo tentando conseguir aquilo que tanto nos afasta dela.