O PAI DA NOIVA

"Nunca me aconteceu isto antes... hoje minha filha se casa, com bênção religiosa e toda pompa de estilo, em salão de clube. Não são muitos os convidados, porque – dilema de qualquer festa – há limitações de toda ordem, inclusive de espaço físico, mas o casório terá muita importância familiar, sobretudo para o pai da noiva. Imagino que sua mãe praticamente case junto - por “osmose” - tal é o envolvimento de mães na montagem destes eventos. Pai, geralmente, fica como instância recursal e apoio logístico. Participa, quando necessário, mas as mães tomam a dianteira e fazem questão, junto com os noivos, de colorir todas as figurinhas. Creio que a mulher tem um talento natural para isto. Na verdade, é tudo muito simples, mas também muito complicado, se é que me entendem. Certa ansiedade confere dimensão enorme a atitudes triviais, como entrar no salão de braço com a filha, cumprimentar o noivo, beijar a nubente, subir ao palco do lado certo, dizer a palavra exata na hora correta e coisas do gênero. Solenidade, enfim, é a complicação da coisa simples. Fui a um ensaio e achei singelo demais, mas na hora H, posso tremer a perna. Se fosse tão à vontade, não se faria ensaio

Quando tudo vai direito, não há novidade e a gente nem chama tanto a atenção; qualquer escorregão é assunto para a vida inteira, filmado, fotografado, indelevelmente gravado na memória de todos. Se, por um lado, é a mãe quem mais se envolve, ao pai incumbe a gravidade da representação familiar, já que é a filha mulher que está sendo formalmente entregue aos cuidados de um genro. O casamento é a solenidade mais pomposa e empolgante da nossa civilização, mais importante do que posse de Presidente da República. Portanto, à noite, vou tomar posse na Presidência do Brasil, da ONU, do planeta, por mais simples e discreto que seja meu papel. É difícil suplantar o poder da tradição. Graças a Deus, porque valores clássicos, costumes ancestrais e rituais de bom convívio devem ser preservados."