Calcinhas no chão

Em quais circunstâncias etílicas eu não conto, sob tortura sequer, nem que tussa a vaca. Porém, é fato. Acontecido de ter. Era só eu e ela e ela atendendo a clientela com o olhar variado, um olhinho esperto pra direita, outro já corria pra esquerda, pondo fé no movimento. Falta sobremesa, falta copinho pro chá. Era uma lufa, mas ela me contava de tudo em rebatimento do tudo que eu lhe dissera. Falara dos meus batons e esmaltes carmins, pra deixar a boca bonita e a rua tanto quanto ou mais quando saísse e que detestava verem meus pés não feitos e ela saiu-se com essa sem mais aquela. E tem gente que já quer ver as calcinhas da gente no chão, nem se dá conta que a vestimos para que vissem, embora também para nosso conforto, algumas nem tanto, mas para que dissessem se era boa de pegar, macia ao toque, aveludada até, as de algodão fininho, ou seda pura, boa para deslizar a mão... Querem-na já no chão, sem olhar a renda, sem esticar o elástico... Sem nada de nada de nada ou quase. Eu me virei pro lado, pedi o troco ela falou que já me havia dado. Eu falei que ela contara um detalhe só e eu dois. Então disse que lhe faltavam moedas e notas de valor pequeno que o troco era aquele e mais não era, isso se fosse devido. Então, com a história na cabeça e um remelexo na assembléia de neurônios, alguns já dormindo pelo efeito das endorfinas pós-almoço... Fui. E já era tarde, que o cartão não espera pra ser picado mais de cinco minutos. Chegou depois, vai se confessar é pro chefe, não pro vigário, nem pra dona de bar-restaurante elegante, fino, com ou sem calcinhas. Té a próxima, que vem troco, eu ponho fé.

Juli Bauer
Enviado por Juli Bauer em 16/04/2009
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