E AGORA MANÉ?

Vez por outra me assalta um estranho pensamento, ou seria mesmo temor. O imponderável! A idade não perdoa,

O tempo não para, os cabelos, quando não caem, vão embranquecendo, e a gente começa a ser chamado de senhor, ou, o que é pior: Aquele senhor... É aí que nostálgica e melancòlicamente vão chegando ás lembranças, e alguns arrependimentos pelas coisas que eu fiz, ou que deixei de fazer. E aquela vontade, ou ansiedade de aproveitar o tempo que ainda resta. E quanto?

Seria uma idéia, (boa?) escrever as minhas memórias, está na moda, mas que iria ler? Plantar uma horta, aprender pintura, escalar montanhas, viajar pelo mundo, conhecer gente nova, rever os amigos que se perderam, no tempo e na distância, Lembrarão de mim? Não seria mal reconsiderar valores, e conceitos, quiçá, alguns preconceitos, que sempre neguei, mas procurando bem... Quem não os tem? Sem esquecer de arrumar as gavetas, expulsar os fantasmas, rasgar papeis sem valor, principalmente aqueles versos ruins, mas que eu nunca tive coragem de jogar fora...se caem nas mãos d”aqueles gozadores de plantão.... E eu não quero ser sacaneado depois de morto.

Até pensei um dia, em confessar algumas deslealdades e ou, mesmo umas e outras canalhices que andei cometendo aí pela vida. Arrependo-me de umas, de outras, nem tanto. É melhor não. Envolveria outras pessoas, causando problemas, talvez um pouco de ódio que eu não estou disposto a levar para o túmulo. E mais um complicador. E se eu não morrer tão cedo? Danou-se! Também já andei pensando seriamente em dar uma bela de uma cantada na minha vizinha, loura de coxas grossas que me olha de soslaio, com cara de carente ou sonhadora, ainda não interpretei muito bem. Acho que não é uma boa. Ela poderia atacar de donzela ultrajada, e eu ainda fico com a fama de velho sem vergonha. E ainda poderia ser pior... E se ela topar?...

Não faz muito tempo, eu andei inclinado pela religião. Mudei de postura e me vesti com toda sobriedade exigida para a ocasião.

E lá fui eu buscar o conforto espiritual na casa do senhor. Entrei, e saí. Envergonhado pela minha hipocrisia, fui até o boteco mais próximo, e para me reabilitar daquele rasgo de cara de pau, pedi um conhaque duplo, e fui virando aos poucos, enquanto pensava: Afinal, Deus me conhece e já esta cansado de saber que eu nunca levei à sério nenhuma religião, e não haveria de ser agora, de passagem por uma crise existencial, que eu iria mudar de um livre pensador, para um fiel seguidor de dogmas e preceitos que nunca acreditei. E agora José, João ou Mané?

Qual é o caminho? Analista? Todos os que eu conheço, bebem mais e são mais doidos do que eu... Reconsiderando... Nenhuma razão aparente para pensamentos fúnebres. Estou gozando de ótima saúde, não tenho inimigos, e nenhum perigo me cerca. E já que eu não morri... Fica o dito por não dito, e tudo volta a ser como antes no Quartel de Abrantes. Volto de novo ao chinelão, que hoje tem samba na Pedra do Sal.

SÃO BETO.