JUDAS, MARTIR OU TRAIDOR?

Curiosamente, lembro-me de ter ouvido falar, há muitos anos, de um assunto que hoje é causa de profunda controvérsia entre os estudiosos dos Textos Antigos.

Judas teria sido o traidor da confiança de seu Mestre, ou ele apenas cumpriu um destino que já havia sido profetizado há muito tempo por Davi? Teria Jesus se enganado tão drasticamente como parece, ao escolhê-lo entre tantos como um de seus seguidores preferidos?

Não é necessário ser um estudioso profundo da Bíblia para, dando uma passada em seus capítulos, ter algumas informações. Parece que, segundo as Escrituras não haveria dúvida, ele teria mesmo sido um traidor. Quem o diz é Lucas, Mateus e Marcos e, há, ainda, vários relatos, como é o caso dos Atos dos Apóstolos, aonde essa hipótese é plenamente confirmada.

É, entretanto, estranho, que nenhum dos outros apóstolos – e eles eram poucos, apenas onze – durante todo o tempo de convívio com Judas Iscariotes, em todas as suas peregrinações, pregações, viagens e sacrifícios que lhes eram impostos pela sua missão, nunca tivessem percebido essa tendência extremamente materialista de seu companheiro, que o levou ao ato extremo de vender a vida do Mestre por algumas moedas, como é amplamente testemunhado.

Não deveria ser a primeira vez que ele demonstrava essa característica vil. O comportamento humano não se altera assim, da água para o vinho, apenas em algumas horas.

Se ele havia dado sinais de algum tipo de cobiça, ninguém questionou que ele ainda continuasse apóstolo, ninguém demonstrou ter percebido nada, ao contrário, parece que o seu ato foi uma surpresa para todos.

Então Jesus se enganou ao escolhê-lo? Não, é claro que não, pois o Mestre já sabia antecipadamente o que iria acontecer. Ele sempre sabia. Há inúmeros exemplos disso nos relatos bíblicos.

Uma pessoa muito sábia, com a qual convivi durante alguns anos, muito antes que esta nova descoberta (o suposto Evangelho de Judas) fosse encontrado, já me havia participado a sua opinião. E ela foi muito convincente para mim. Tão convincente como simples. Tão óbvia mesmo, que acredito que ninguém tenha pensado nela, pois os estudiosos da matéria estão batendo cabeças sem encontrar uma solução para o que parece ser um grande mistério.

Com todo o respeito a esse meu Amigo e Mestre de quem falo, que infelizmente já não se encontra entre nós, pelo menos fisicamente, apenas querendo trazer um pouco de luz à questão e ajudar a colocar Judas no lugar que merece, relato, de forma muito breve, o que ouvi naquela ocasião:

Judas Iscariote era um seguidor fervoroso de Jesus e um defensor ferrenho da sua doutrina que, depois, tornar-se-ia o Cristianismo que conhecemos.

Ele não se conformava com as perseguições que seu Mestre e os apóstolos, seus companheiros, sofriam, pois, afinal, todos eles estavam imbuídos dos mais belos propósitos de amor, misericórdia e paz e, ainda que estivessem contrariando a antiga Lei Mosaica, estavam implantando uma nova realidade entre os homens, a Lei da Tolerância, do Amor ao próximo, do Perdão, e era totalmente injusto que fossem perseguidos por pregar o entendimento e a fraternidade no seio das multidões, pois longe de desejarem o mal de qualquer pessoa, eles, na verdade, lutavam pelo bem de todos.

Inconformado, Judas vivia pedindo a Jesus que usasse todo o poder que ele possuía contra os governantes e sacerdotes que impingiam tão cruel perseguição aos cristãos e á sua doutrina. Jesus já havia demonstrado esse poder ao fazer curas milagrosas, fazendo cegos ver, paralíticos andar e mortos ressuscitar.

Mas o Mestre não atendia os pedidos de Judas. Sabia que o seu destino, e a sua Missão, era outra, e que se usasse as mesmas armas dos seus perseguidores (se é que ele iria conseguir lançar-lhes tão furiosa investida como Judas pretendia), colocaria tudo a perder.

Judas se desesperava cada vez mais com as negativas de Jesus, que em alguns momentos lhe pareciam fraquezas, até que, vendo que tudo caminhava tão mal para todos eles (que haviam deixado suas famílias e se dedicavam apenas às boas obras, sem pensar em si mesmos), decidiu precipitar as coisas, colocando fim ao que supunha ser falta de atitude de seu adorado Mestre, pelo seu excesso de amor e bondade aos homens.

Decidiu colocar Jesus numa tal situação que o Mestre teria que agir contra os seus perseguidores, pondo termo, de uma vez, àquela frustrante condição, antes que os inimigos do cristianismo acabassem com todos eles.

Mas, o que ele não esperava é que Jesus, consciente da sua Obra no Mundo, iria aceitar o sacrifício de morrer sem reclamar nem reagir, lançando, assim, de forma definitiva, as bases seguras e firmes da sua doutrina.

A maior parte dos apóstolos nunca entendeu o que aconteceu, como poderiam entender? E escreveram o que lhes pareceu ver.

Judas errou. Ele entregou Jesus, sim, mas, não o traiu. Depois, perante o insucesso da sua empreitada, vendo a tragédia que havia provocado,... todos sabem o quanto a sua consciência lhe cobrou.

Você, caro amigo, cara colega escritora, o que acha disso?

Escreva-me dando a sua opinião. Quem está certo? Quem está errado?

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J Maelick
Enviado por J Maelick em 08/05/2006
Código do texto: T152626