Refletindo sobre a paz!
Nessa noite tomei um cafezinho, lá pelas dez horas. Estava uma delícia! Quentinho, daqueles passados na hora, na verdade acho que tomei uns três. Resultado: Tive uma bela de uma insônia. Mas, não fiquei nervosa, estava tranqüila. O barulho da rua havia cessado e no quarto fazia um profundo silêncio, quebrado apenas pelo cricrilar de um grilinho teimoso no canteiro do jardim e também pelo ressonar de meu marido que dormia o sono dos anjos. Seu corpo em concha moldava-se ao meu, transmitindo-me calor, conforto e segurança.
Eu não dormia, mas estava em paz. Havia realizado todas as minhas tarefas do trabalho e naquele dia finalizara uma auditoria sem notificações. O dia de meu marido também fora agraciado, havia conseguido efetivar o sonho de sua aposentadoria e meus dois filhos dormiam tranquilamente.
Percebi que minha insônia era de certa forma até prazerosa e podia aproveitar aquele tempo para refletir sobre a paz que reinava em meu lar naquele momento. Pude então compreender que para estarmos em paz precisamos basicamente de que nosso lar esteja organizado, nosso trabalho esteja em dia, nossos direitos constituídos e efetivados e nossa família reunida e feliz.
Descobri que a paz vem de um governo, familiar e político. Na família é necessária uma liderança conjunta para promover a harmonia de todos. E politicamente é necessário um governo que edite políticas públicas voltadas para a efetivação da cidadania plena. A falta destas políticas gera profundas feridas na família e na sociedade, como o desemprego, a delinqüência, o vandalismo e outros. Uma casa onde não tem pão, não tem remédio e nem educação básica, é um lar sofrido. Ali, sempre haverá discórdias, cobranças e desarmonia. Os filhos preferem ficar na rua, procurando outros ambientes, os casais quase não se falam e na hora de dormir a família nunca está reunida.
Pensando nessas famílias e em tantos problemas que as afligem, percebo que a paz que eu sentia já não preenche todo o espaço do meu coração, nele procuro acomodar também, todos esses meus irmãos marginalizados e desconstituídos de seus direitos. Lembro-me da canção Balada da Caridade (hino católico) “Para mim, a chuva no telhado é cantiga de ninar, mas o pobre meu irmão, para ele a chuva fria, vai entrando em seu barraco e faz lama pelo chão...”
Deparo-me nesses pensamentos e percebo que minha insônia já não é tão prazerosa como havia pensado, perco a paz e fico a pensar no meu irmão...
Maria Helena S. Ferreira Camilo C. Lucas