TERCEIRA IDADE
Pensava que a terceira idade seria mais parada do que água de poço. Afinal, o ritmo de trabalho diminui, o grau de necessidade econômica já não é o mesmo, os filhos tornam-se adultos e a natureza, supostamente, vai se aquietando. Imaginava que os grandes eventos, na chamada melhor idade, diriam respeito a netos ou a parentes mais jovens. Talvez pensasse assim inclusive nos meus cinqüenta anos. Ledo engano. Vejam como é a vida: em agosto passado, celebrei união estável e, neste ano, devo mudar-me para o apartamento em construção. Também caso meus dois filhos. Possivelmente, até o final do ano, esteja de posse da cidadania portuguesa, acalentando a fantasia de, futuramente, morar um tempo em Lisboa e lá publicar um livro. Ainda tenho pela frente, obrigatoriamente, mais de oito anos de trabalho e, portanto, se a saúde e a sorte continuarem positivas, devo realizar um programa de obras próximo ao que implementei nestes últimos 62 anos. Não que tenha sido grande coisa, mas serviu.
Como é importante equilibrar o imediatismo da juventude para evitar frustrações precoces e a idéia absurda de que o futuro já chegou para quem tem apenas trinta ou quarenta anos! Recomecei aos 42 e, à época, por alguns momentos, também padeci deste mal de espírito. Parecia difícil que a vida pudesse tornar-se tão aberta, desafiadora e interessante.
Não tenham pressa, mas plantem para colher. Alimentem o otimismo. Conheço gente com mais de oitenta que sonha alto. Meu pai tinha um latifúndio na imaginação: jogava na loto buscando comprar mais terras; mas sou diferente e aviso: se quiser ser fazendeiro, me internem, porque fiquei senil.
Lamento pelos sessentões que já fazem balanço de vida sentados no imobilismo. Não sou saudosista: cada fase da existência tem seus encantos e problemas. Não envelheçam de medo. Não envelheçam antes da hora. Há sempre tempo para novos amores e aventuras. Na pior das hipóteses, haverá tempo para memórias, contemplação e amores delicados.