Refluxo.
Passa mal. A cabeça roda feito um burburinho novo. E só tomou cinco caipirinhas ontem. Antes tivesse ficado em casa, ligada na cyberlândia, sorvendo Diet Coke. Foi conselho de mãe até, mas era tão óbvio...
Ela então acorda de um sono mal dormido sentindo o cheiro azedo no mundo. Parecia uma ilha cercada de vômito por todos os lados. Pela primeira vez não sentiu nojo de si. Levantou da cama sem pisar na desgraça atrás de um pano velho na lavanderia. Umedeceu na torneira, levando para o quarto. Aquela porcaria já estava seca no chão, umas cebolas do almoço, um preto vindo não sei de onde e o líquido empapado marrom. Precisou de um desinfetante. A primeira coisa que veio na mão foi um desses pra limpar mijo de cachorro, azul, cheiroso. Distribuiu bem sobre a cerâmica, esfregou com toda força. A lama desapareceu, embora o perfume desse troço tenha impregnado no ar.
Agora é que não conseguia dormir mesmo, ficou pra lá e pra cá. Tropeçou no xixi da cadela e lá foi ela de novo limpar. Sua camisola estava molhada, seu estômago sujo. Tonteou, pondo pra fora o restante de caipirinha ou bílis na pia da cozinha. Disfarçou o outro cheiro com detergente em cima. Ainda tinha pratos ali, panelas. Bom, nada que a água não cure.
Do pouco que se lembra da noite passada foi que voltou pra casa sozinha, esbarrando nos muros, chorosa. O antes é que não cabe bem contar...
Por: Paola F. Benevides
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