A visão dos lúcidos
Nunca o mundo – e o Brasil, em particular – precisou tanto de pessoas lúcidas para ajudar na tomada de decisões. Grande parte dos “comandantes” das nações insiste na beligerância como norte de seus governos; na falta de atitudes concretas em prol do fim da miséria e das agressões ao meio ambiente.
Os discursos e ações que respaldam tais visões de mundo são frágeis porque esbarram na realidade nua e crua. Qualquer pessoa com o mínimo de bom senso sabe que a pobreza é fruto da desigualdade social, e que a violência cotidiana que tomou conta do planeta é decorrente desta própria desigualdade e da degradação dos valores espirituais e morais que norteiam a vida em sociedade.
Quando essa violência lança seus tentáculos em todas as classes e instâncias sociais, como tem acontecido no Brasil já há algum tempo, poucos são os que têm a coragem de expor suas opiniões, mesmo que elas pareçam antidemocráticas e retrógradas para alguns segmentos. No debate em torno da redução da maioridade penal, os principais representantes da chamada ala esquerdista da nação – entre eles o presidente Lula – se manifestam contra, alegando não ser este o melhor caminho.
Considero ponderado o meu posicionamento sobre o tema. Sou a favor da redução da maioridade penal, mas não como única solução para o problema da violência, e sim como uma pequena (mas essencial) parte de um grande “pacote” de medidas sócio-educativas e punitivas.
Considero uma visão bastante coerente e perspicaz da realidade a versão para o assunto dada há algum tempo por Alexandre Garcia no telejornal Bom Dia Brasil. Num dos programas ele comentou a seguinte pergunta enviada por três internautas: “por que um jovem de 16 anos tem responsabilidade para votar, e não pode responder pelos crimes que cometer?”.
O jornalista e articulista político da Rede Globo, com argumentos contundentes, foi direto na ferida: “porque aqui no Brasil as leis são boazinhas para os que não as cumprem. Quem faz as leis espera que passe a nossa indignação para que as leis continuem boazinhas. Por isso o Brasil é o sonho de todo criminoso. Por isso a impunidade é a causa do aumento do crime, em quantidade e crueldade”.
Sem meias-palavras ou colocações evasivas – que tanto caracterizam os discursos da maioria dos nossos políticos – Alexandre Garcia foi mais além e alfinetou: “aqui quem comete crime com menos de 18 anos nem pode ser chamado de criminoso. Aqui se é condenado à pena máxima de 30 anos e se sai da prisão em cinco anos, isso se o criminoso não estiver entre os 350 mil condenados que estão nas ruas, porque os mandados de prisão nunca foram cumpridos, como acaba de mostrar a Associação dos Juízes Federais”.
Contra os argumentos de alguns governantes, que insistem em dizer que a redução da maioridade penal vai abarrotar ainda mais as prisões brasileiras, o articulista não deixa dúvidas: “vai faltar dinheiro para construir prisão? Ora, é o dinheiro que impunemente desviam do governo, pegam como comissões, gastam mal, sem prestar serviços públicos. Aqui é o paraíso. Os impostos são quase 40% do trabalho de todos, mas não são suficientes para dar segurança e, antes disso, educação. O que podemos fazer? Mostrar indignação. Mas com fatos e atos, não com palavras de ordem abstratas, como ´queremos paz, abaixo a violência´. O objetivo não é a paz, é a cadeia de verdade para o criminoso. Não é combater a violência, mas o criminoso, o autor da violência. De chinelo ou de gravata, de qualquer idade. O criminoso deve rir enquanto fazemos um minuto de silêncio para aplacar nossa omissão”.
Necessitamos cada vez mais de pessoas lúcidas, como Alexandre Garcia. O Brasil não suporta mais a hipocrisia dos pseudodemocratas, que, temendo tudo que lembre a ditadura militar, confundem truculência com rigor na punição dos criminosos.