UM SORRISO PARA ALÉM DOS CEM ANOS
UM SORRISO PARA ALÉM DOS CEM ANOS
Ver naquele sorriso além do rosto, encontrar aquele olhar através do nosso, sentir a leveza de sua alma límpida, me fez ver que a vida bem vivida vale muito; vale mais do que qualquer outra coisa, que se nos apresente.
Do alto dos seus 97 anos, pode com toda a certeza, ensinar a quem quiser as regras para a longevidade. Mas na sua simplicidade, não há por certo, lugar para a vaidade para sobrepujar o conhecimento, a sabedoria; há sim, palavras de bondade através de orações, que remove lágrimas, quando a aconchegamos em nossos braços e mui baixinho, palavras de conforto são proferidas, com amor e um profundo carinho.
Passeei por sua mente, enquanto ela estava sentada, na sala onde sua neta, cumpre o expediente da jornada de trabalho. Paciente, a senhora avó, a mulher menina, buscava com seu olhar, compreender aquele alvoroço, na confraternização entre as equipes comandadas por sua neta, na Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Ela contemplava a todos, sem perder qualquer lance de direcionamento, sorria, e nesse sorriso encontrava em si, quem sabe, a mesma idade de cada um que ali se encontravam.
Imagino eu, que podia contrabalançar ao peso do conhecimento e da sabedoria e por certo o prato da balança penderia para o seu lado.
Não era apenas a vovó Maria ou a esposa do Ernesto Joaquim Maria dos Santos, Compositor e violonista, aquele que foi sem nunca ter ido, pois está na memória de cada brasileiro que curte o samba, o jongo ou o afoxé e que por certo conhece o Donga. E ela ali estava em harmonia consigo mesma, em paz com a sua paz.
Pude perceber a serenidade que a ladeava, e a grandeza de um espírito de luz que reanima àquele que necessita de paz para adentrar nas veredas da vida. Senti em mim, um alento, como há muito não sentia. E tão sutil quanto ela, pude inclinar-me e cumprimentar o seu Deus, por olhar por mim, pois Esse também era o meu Deus, o Senhor dos nossos ancestrais.
Pude vê que por cima daquele salto encontrava-se a imagem da mulher brasileira, achava-se a coragem e a disposição para a vida, à conduta que rege o ser feminino, sem perder a grandeza que deve portar uma mulher. Pude ver a mãe, a avó, a bisavó... Pude ver várias gerações em uma só pessoa, em uma só mulher.
Através das simples palavras que eu posso editá-las a seu respeito; não encontro nenhuma outra que possa defini-la tão bem quanto as palavras “simplicidade, ternura e saudade”.
Que venham os dias, que passem os anos sem que, sua serenidade seja afetada, para que ela possa repassar, através dos seus, a todos os caminhantes do tempo, a experiência de uma longa vida, de uma extensa caminhada pela estrada do bem viver.
Que os seus saibam dignificá-la por todo o percurso que lhes couber, sem jamais esquecer que ela era, que ela é e que ela será a mulher do terno sorriso, para além dos cem anos.
A sua benção vovó Maria, e que Deus nos conceda sua serenidade, sua paz e seu amor, por muitos anos, amem.
Rio, 14 de fevereiro de 2009
Feitosa dos santos