FALANDO AO FILHO MAIS NOVO
Um outro dia eu conversava com um amigo de juventude, do pré-vestibular a faculdade, apesar de pouco nos encontrar, quando nos encontramos, procuramos confidenciar nossas glórias, assim como nossos fracassos, pois é fato, que todos nós temos os dois lados da moeda.
Ele também tem dois filhos, e me contava da sua preocupação pelo desempenho do mais novo, com relação ao seu desempenho em querer ser, em encontrar seu espaço nesse mundo tão competitivo; e começou por assim dizer:
- Hoje ao ficar sozinho, depois que o meu filho saiu para seu recolhimento espiritual gnóstico, que segundo a crença esotérica da gnose dos dois primeiros séculos da nossa era cristã, gnosticismo quer dizer conhecimentos dos mistérios divinos, sabedoria...
Mas não vou me ater a nenhum credo religioso, e sim ao que eu gostaria de conversar com ele, porem sei que talvez não tenha muito tempo para me escutar, então lhe escrevi um texto que o intitulei de “Só para meu filho mais novo”.
Eu o escutava com muita atenção e ele continuou narrando o texto da forma que escrevera, era sua história em forma de desabafo.
- Quando nós, eu e sua mãe resolvemos ter o segundo filho, eu pedi a Deus que este filho, ou seja, você, fosse uma pessoa saudável e inteligente e que se possível não portasse nenhum defeito físico ou mental. E Deus não só me ouviu, como na sua infinita bondade lhe concedeu muitos talentos, que você precisa repensar em tudo isso que estou a lhe escrever.
Deus lhe concedeu o talento da saúde, o talento da inteligência, da sabedoria, da beleza, da simplicidade, do amor, da bondade, da sensibilidade apurada, da generosidade, do bom caráter, do bom senso, do talento para a musica, do talento para servir ao outro... E muitos outros que por certo ainda existem, e eu tomaria muito tempo para descrevê-los.
Embora Deus tenha lhe concedido tudo isso, nada ou quase nada, Ele lhe pediu em troca, mas creio eu, Ele gostaria de ver todos estes talentos serem bem desenvolvidos, multiplicados.
Eu cada vez mais me deslumbrava, com uma narrativa tão cheia de verdades, pois também conhecia seu filho e em nada o diferenciava do seu relatar. Ele continuou a discorrer sobre o assunto do texto que escrevera.
- Será que você está desenvolvendo a contento todos esses talentos? Pense nisso com carinho, pois, por certo, você haverá de prestar contas do que recebeu, e de como desses se utilizou.
Por vezes, eu e sua mãe, sentimos que você ainda não se deu conta da capacidade interior que tem, da força que está contida dentro do seu “eu” interior, da inteligência contida em você. Perguntamos-nos: onde erramos? Onde estamos falhando para inibir todo esse potencial contido em você? Não é possível que não se aperceba disso. Tenho absoluta certeza de que em nada erramos.
Com todos esses talentos que Deus lhe concedeu, precisar de apenas de “pouca coisa” conforme você costuma falar quando argumentamos, é muito pouco no mínimo o dobro de tudo isto, deveria ser cobrado por você a você mesmo.
Uma grande verdade explicada por esse que cada vez mais me aguçava o interesse, por tão esplendida narrativa de um pai para com o seu filho. Ele continuou:
- Você um dia terá por certo a sua família: mulher, filhos... E não é com “pouca coisa” que se criam filhos, você mesmo é testemunho de tudo o que eu e sua mãe passamos, para educar vocês: alimentação, vestimentas, educação, lazer, moradia e muito mais.
Peço sempre ao nosso Deus que lhe oriente; e como nós, eu e sua mãe, gostaríamos de ver mais vontade em suas ações, ter prazer pelo que faz, vibração pelo que busca, sem a perda dessa paz que lhe é peculiar.
Eu meu filho, nasci naquele interior, que você tão bem conhece; mas nunca quis ter apenas “pouca coisa”, por que eu sempre desejei dar o melhor para os meus filhos, para a família que sempre sonhei em construir.
E você sabe por que eu sempre lutei para ter o melhor? Porque os nossos filhos não pediram para que nós fossemos seus pais; somos nós que escolhemos ter os nossos filhos e esses não merecem sofrer. É por isso que enfrentamos a tudo e a todos em defesa da nossa prole.
Será que os seus futuros filhos merecem receber de você apenas “pouca coisa?” Pense nisso também.
Será que a sua futura esposa, ao sair da casa dos pais para viver com você, merece receber apenas “pouca coisa?” Será que Deus que lhe deu tantos talentos, para que deles você cuidasse merece que os devolva tal qual recebeu? Ou seja, “pouca coisa?”. Pense e veja se isso é o certo.
Oro e peço a Deus que lhe mostre um caminho de honra e de glória, para você e aqueles que virão de você. Que Deus lhe abençoe e guie no bom caminho e, tenho certeza que você terá um grande e honroso futuro pela frente. Porque inteligência e sabedoria não lhe faltam. O que ainda lhe falta é à vontade de querer ser o que Deus lhe confiou em talentos. Honre o nome do senhor seu Deus com os seus atos. Que Ele te abençoe sempre. Um beijo de amor do seu pai.
Fiquei feliz por ver que esse pai fizera o que todos os pais deveriam fazer, para com os seus filhos. É o mínimo que os pais deveriam propiciar a sua prole: um companheirismo, a retidão do caminho a ser trilhado, as adversidades encontradas nesse caminho, enaltecer as qualidades de cada filho e procurar corrigir o que achar desfavorável para sua formação.
Pude perceber, que as verdades faladas ou escritas, diminui a distância entre pessoas, e, principalmente entre pais e filhos, constitui-se numa prova de um amor incondicional.
É preciso se falar à verdade para quem se ama. E por isso, pude admirá-lo com mais convicção e a respeitá-lo como ser humano, pai e amigo. O meu grande amigo.
Rio, 08 de fevereiro de 2009
Feitosa dos Santos