A solidão do poeta
Dizem, e eu tenho repetido, que a poesia não é necessária. Mas é. A poesia é um sinal de que o homem está vivo. Mais: ajuda, e muito, o homem a viver. Leio na última revista “Isto É”, na crônica de Miguel Falabela: “Deveríamos todos ler um poema por dia. As escolas deveriam iniciar seus trabalhos com um poema antes da maratona de aulas. Faz bem ao coração.”
Todos os homens nascem condenados à solidão. Sempre falta algo que lhes preencha a alma. Sempre sobra um vazio interior. Pode haver aquele auto-suficiente, que se julga superior, frio e calculista, e acha não necessitar da poesia. Se nem esse vazio interior tem! Se nem interior tem! Pois, por isso mesmo, esse é que precisa mais da poesia. Mais do que para preencher o vazio que todos nós temos uma vez ou outra, quando nos confrontamos com nós mesmos. Para dar-lhe essa vida interior que lhe falta, para torná-lo humano.
Ledo Ivo diz que a poesia é a arte de fazer poemas, mas também uma visão do mundo, é existencial, reflete tudo que o homem sente e sonha. É experiência pessoal, intransferível. O trabalho do poeta é, portanto, enorme: transferir o intransferível. É espelhar com as suas imagens todos os anseios e sentimentos do homem, todo o mundo que a sua consciência cria, lá no fundo dessa consciência, no inconsciente, onde nem ele mesmo sabe que tais sonhos e alucinações existem.
O poeta português António Ramos Rosa disse que quem escreve nunca está só na sua solidão de asceta. Comunica-se com a solidão dos outros homens. Preenche-as. Torna a alma desses outros homens mais pura, com a ascese das suas imagens. Por isso disse ainda que o poema é um arbusto que não cessa de tremer. Eu diria mais: que o poema é a sarça ardente, porque é animado pelo sopro de Deus. Daí a importância do trabalho do poeta, esse ser inútil. Daí porque a poesia não é necessária, mas é. É um sinal da presença de Deus entre os homens. Somente Deus poderia insuflar vida aos homens, no íntimo da solidão humana, como a poesia faz.