Viagem à Pirapora - Final

O histórico vapor Benjamin Guimarães agora circula pelo rio São Francisco, somente em território mineiro e em viagens turísticas.

Pontualmente, às nove horas, aos domingos, o gaiola faz soar três apitos com pequenos espaços entre eles. O terceiro é mais demorado, iniciando as manobras de partida para mais um passeio, com duração em torno de 4 horas e meia.

Grande é a caldeira, que foi sendo aquecida desde a madrugada. As lenhas – pinho e eucalipto – depositadas e empilhadas uniformemente na proa, no piso térreo do gaiola . O foguista, Sr. Aroldo, aposentado, novamente foi chamado para os passeios dominicais, trabalho que ele faz com muito orgulho.

Depois de uma estreita escada, tivemos acesso ao segundo pavimento onde havia a cozinha, o refeitório, dois banheiros e 18 aposentos. Nova escada e chegamos ao terceiro convés, onde ficavam o comandante – Sr. Cassiano com seus dois auxiliares. Os 12 dormitórios são reservados para a tripulação. Em cada camarote há um beliche, uma pequena pia e um suporte para copos. A proa ostentava a bandeira de Minas e a de Pirapora. Na popa era a Bandeira do Brasil que tremulava.

A tripulação fica atenta durante todo o passeio, verificando se tudo está em ordem: o vapor da caldeira, a lenha, a limpeza de cada canto da embarcação.

Uma Banda de Pagode levou a turma a dançar durante toda a viagem.

Enquanto o barco descia o rio, que ora era mais estreito, ora mais largo, havia, às vezes, os bancos móveis de areia, perigosos para a embarcação.

A cozinheira todo o tempo esteve ocupada em preparar pequenos pratos como mandioca e peixe frito. O filho da cozinheira, George, um garoto de seus nove anos, logo se familiarizou conosco e contou-nos um pouco de sua história.

E lá foi o barco singrando as tranqüilas águas do Velho Chico, a uns dezoito quilômetros por hora em média, ao gostoso compasso da caldeira com seu ruído característico e da roda (vermelha, contrastando com o branco e o bege do barco). tocando n’água para empurrar a embarcação.

Crianças, ao longo do rio, abanavam suas mãos em resposta aos nossos cumprimentos.

Uma jornalista da PUC- MINAS entrevistou toda a tripulação e tudo foi filmado e fotografado.

Interessante a sinalização para a navegação que se encontra em toda a margem do rio. Assim que o vapor deixa o porto, já surgem as primeiras placas de sinalização, colocadas à margem do rio. Essas placas indicam o tipo de manobra que o gaiola deverá fazer: navegar pelo meio do rio, cruzar de uma margem até a outra, indo em direção da próxima placa, fazer o percurso pela margem em que a placa se encontra etc. São figuras de “X” e de quadrados vermelhos e azuis.

A barragem de Três Marias, situada a 95 quilômetros a montante de Pirapora, retém as enchentes nos períodos chuvosos e garante os níveis mínimos de água para a navegabilidade durante as estiagens.

Amei esta viagem no Vapor Benjamin Guimarães que foi muito emocionante! Há muito sonhava com ela!

Conheci o Rio São Francisco em seu berço no alto do Chapadão da Zagaia, na Serra da Canastra, município de São Roque de Minas – MG, onde brota a água límpida, cristalina. No local, uma pequena estátua presta silenciosa homenagem ao santo do nome.

Passei em sua primeira ponte, pequenina, com um vão de apenas três ou quatro metros. Vi sua primeira e mais bonita queda d’água a vinte quilômetros da nascente É a Casca D’Anta com cerca de noventa metros de altura. Passei em sua última ponte, já bem próxima de sua foz. E agora, por ele naveguei!

O Rio São Francisco foi, é e será objeto de ótica literária no campo do romance, da novela, do conto, da poesia, do teatro, do folclore e das investigações científicas.

E me vem a pergunta: Será que o Velho Chico guarda, ainda, a alcunha e mérito de rio da unidade nacional?

Obrigada, meu Senhor, por mais uma linda viagem, mais um sonho realizado!

“Lá na Serra da Canastra

Lá de Minas nas Gerais

O Senhor olhou seu povo

E uma lágrima derramou:

Esse choro virou rio

São Francisco se chamou!”

(Antônio C. Santini)

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 16/04/2006
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