Viagem à Pirapora - I

Situada a 330 quilômetros de Belo Horizonte, Pirapora desponta no cenário turístico mineiro como um dos pólos mais importantes do Estado. Atraídas por sua privilegiada localização, à beira do São Francisco, centenas de pessoas desembarcam na cidade, todos os fins de semana, em busca das emoções das pescarias e das belíssimas paisagens propiciadas pelos passeios turísticos nas claras águas do Velho Chico. Seu nome significa, na língua Tupi, lugar onde o peixe salta.

Dia 13 de maio de 2005, às 13 horas, numa excursão organizada por Janete e Sônia, saímos rumo à cidade de Pirapora. Foram sete horas com poucas paradas, o suficiente para um cafezinho, descansar o corpo ou mesmo um alongamento.

Hospedamos no melhor hotel da cidade: o Hotel Canoeiros.

No “quintal” do Hotel, o Velho Chico desliza, formando cachoeiras e uma belíssima praia, onde banhistas se refrescam do forte calor, típico das regiões de cerrado. Aos domingos, as famílias piraporenses têm lugar cativo nas praias do São Francisco.

Toda sexta-feira, a moçada se reúne numa praça, que fica bem na orla do rio. São muitas barracas que ali se ajeitam, fazendo ofertas chamativas para tomar caldo de mandioca, saborear a farofa de feijão, a carne seca e também as sobremesas que são bem variadas.

A música ao vivo mantém a energia da turma até altas horas.

Dia 14, de manhã, fizemos um city-tour. Pirapora oferece uma série de atrações turísticas: Avenida Salmeron, Praça dos Caríris, Pista de Bicecross, Capitania dos Portos do São Francisco, orla fluvial, Restaurante Egnaldo, Mercado Municipal, Associação dos Artesãos de Pirapora.

Lindas peças estavam expostas: várias carrancas, de tamanhos variados e imagens de alguns santos.

As carrancas são peças curiosas, que já não se encontram mais nas proas das embarcações são-franciscanas. Hoje só são feitas como objetos de decoração, fato que tem, aliás, o mérito de não deixar morrer a lembrança dessas curiosas esculturas. Sua origem é muito discutida. No decorrer da história, as precárias condições de vida dos barqueiros e demais ribeirinhos do São Francisco, o analfabetismo dominante e o espírito ingênuo característico constituem chão fértil para o surgimento e a fixação das mais variadas crendices e superstições. Procuram criar defesas e objetos protetores que lhes venham confortar o espírito. Alguns mitos existentes são próprios do rio São Francisco. Desses mitos ( que atacam as embarcações, que comem gente, que derrubam barreiras nas suas margens) os mais conhecidos são o Bicho d’Água, a Mãe d’Água e o Minhocão. As célebres carrancas eram colocadas nas proas das embarcações para afugentar esses maus espíritos. Mesclando detalhes humanos com os de animais, elas apresentam, em geral, uma expressão de ferocidade. São feitas de um único tronco de madeira e retratam apenas a cabeça e o pescoço de alguma figura mitológica indeterminada. A presença de carrancas nas embarcações do São Francisco surgiu, aproximadamente, há um século, pois datam de 1888 as primeiras referências a elas. Sua origem também pode ter por base interesses comerciais. Elas constituem uma manifestação artística coletiva, com caracteres comuns, respeitadas as individualidades de cada artista, e não se encontram em nenhum outro local ou época.

Uma imagem de São Francisco, medindo 80cm de altura, me chamou a atenção pela sua perfeição, pelo conjunto harmonioso de suas formas. Valdir, seu autor, um rapaz de 30 anos, estava no fundo da saleta, num canto, humildemente ouvindo os comentários dos turistas sobre cada peça. E muitos elogios ele recebeu. Contou-nos que seu dom foi desenvolvido, observando seu pai trabalhar e depois criando suas próprias obras.

(continua)

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 15/04/2006
Reeditado em 15/04/2006
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