CULPADO OU INOCENTE?
Pai esquece bebê de um ano e meio no carro em estacionamento a céu aberto, em pleno sol, e este falece de desidratação e queimaduras: culpado ou inocente?
É fácil julgar alguém, sem estar na pele dela. Quando Cristo disse “...atire a primeira pedra, aquele que nunca pecou...” queria, na verdade, dizer o quê? Na minha opinião é que nem sempre olhamos com olhos de ver. Vemos o que queremos, o que estamos condicionados a ver.
Desses que o condenam, quantos fazem idéia do que ele está passando? Entre os que antecipadamente o condenam, quem conhece o passado dele? A mãe da criança não disse, sequer, que o perdoava. Por quê? Porque não há necessidade de perdão, onde não há julgamento de culpa... Então, quem somos nós, tão distantes, para saber mais que os próximos?
Tudo é possível em questões como essa. Um delas seria o óbito anterior por outro motivo qualquer e que os pais, por alguma razão especial, quisessem esconder. Neste caso, então, poderiam ter forjado esse fato e a mãe da criança seria naturalmente cúmplice. Fora disso, foi pura e simplesmente uma fatalidade.
O hábito faz o monge e a correria do dia a dia e a loucura das cobranças sob a qual estamos todos pressionados podem criar situações como essa. Não deveria acontecer, mas muitas outras que também não, e só não são consideradas por não envolver vias de fato, acontecem. A síndrome do pânico é uma delas e é mais comum do que se imagina.
Há responsabilidade no esquecimento do pai? Claro que sim. Mas daí a julgá-lo em crime doloso, só se ficar comprovado segundas intenções na ocorrência. Uma investigação policial, então, é mais que natural já que envolve óbito. Por isso o inquérito foi instalado.
Mas se for impossível comprovar o contrário da distração - por mais irresponsável que isso possa parecer, o pai deve ser inocentado na lei dos homens. Porque pela outra lei ele já está pagando um preço muito mais alto que a sua capacidade natural.
Quem considera impossível um pai esquecer o próprio filho no estacionamento e não se lembrar disso por horas, provavelmente tem uma vida muito tranqüila e não sofre pressões na nossa sociedade. Não toma Pondera nem outros remédios similares...
Somos todos inocentes, até prova contrária. Ou todos culpados, sem não soubermos por que, exatamente, condenamos alguém!