O poder de uma bola

Dimas já era quase um pré-adolescente e não queria saber de escola.

Morava na cidade Coronel Xavier Chaves, mais conhecida por Coroas. Ajudava nos afazeres de casa, perambulava pelas ruas, a cabeça longe de uma sala de aula. Seu maior prazer era o futebol. E o moleque realmente ganhou fama de muito bom de bola. Lembrava o “Menino Maluquinho”, quando chegava ao campinho da cidade e pisava a grama verdinha cheio de autoridade. Havia sempre uma platéia para aplaudi-lo nas suas interessantes jogadas. Mas os pais não aprovavam esta mania do garoto por futebol. Sonhavam para ele uma carreira de futuro, nestes tempos de tão acirradas concorrências. E a família tentou, em vão, demovê-lo de suas idéias, prometendo-lhe mundos e fundos. A avó prometera cadernos, lápis e borracha. Os tios prometeram uniforme. Até umas boas palmadas ele já havia levado. Mas nada! Resistia a tudo e a todos.

Dr. José Geraldo, conceituado advogado da cidade, conhecia bem o Dimas e o achava muito inteligente. Tentou também ajudá-lo. Com todo seu jeito de psicólogo nato, atingiu de cheio o ponto fraco do garoto, apresentando-lhe a promessa de uma bola de capota, se fosse para a escola. Dimas ficou desconfiado da veracidade e seriedade da proposta. Uma bola de capota representava o maior prêmio que pudesse receber. Sentiu que o coração até pulsou mais forte. Olhou bem para aquele senhor e teve certeza de que suas palavras não eram balela. O advogado, com voz macia, olhar sereno, inspirou-lhe confiança. Dimas prometeu ir à escola. E foi mesmo.

Dr. José Geraldo deu um certo tempo de carência para testá-lo na perseverança. Dimas se manteve firme e ganhou a tão sonhada bola. Continuou os estudos com brilhantismo e nas horas de folga ele se esbaldava com a bola de capota.

Resultado: Dimas, hoje, é engenheiro de uma empresa paulista de grande porte.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 12/04/2006
Reeditado em 16/05/2012
Código do texto: T137785
Classificação de conteúdo: seguro