O brilho de meus olhos
Sonhos e ruas monocromáticas acompanham minha caminhada silenciosa ao som propagado no vácuo de minha vasta memória de vidas e momentos termináveis e passados. As luzes baixas contrastam com o brilho vivo de meus olhos e minha cabeça abaixada enquanto caminho, tem meu rosto coberto pela sombra do chapéu que cobre meus cabelos grisalhos. Minha capa é velha, mas me cobre do frio das ruas úmidas deste lugar que não sei bem onde é. Não entendo muito bem aquelas coisas flutuando a minha volta, são telas com momentos em que vivi, bons, ruins, todos, me dei conta, estou em um sonho, e curioso sigo. Percebo meus sapatos, são amarelos vivos, e definitivamente são as únicas cores vivas que tem em todo cenário, percebo então que lembrei do que uma amiga disse a muitos anos, que se as pessoas não estivessem interessadas em colorir o mundo, usaria sapatos coloridos e por onde pisasse faria sua parte em colorir pedacinhos por ai do universo. Era claro então, minha vida em preto e branco não foi suficiente para sufocar minha vontade de caminhar, conhecer, iluminar a escuridão com o brilho de meus olhos, e colorir pedacinhos de universo soltos a minha volta e fazer cinema de tudo que não tinha graça. Era um sonho de tantos outro que tenho acordado, desta vez dormia, mas para variar, de tanta intensidade, meus sonhos eram continuação de meu dia, e vice e versa, sempre assim, claro, levado por descrédito por tantos próximos que aprendi a ser distante de tantos quantos fossem eles. Levei meus passos e toquei cada tela flutuante que se apresentava ao caminho, tinham gosto, cheiros, texturas as quais havia me esquecido, mas que curiosamente faziam parte de quem sou hoje, um homem construído de falidas memórias ausentes mas vivas e presentes na carne, nos músculos, nas atitudes e no brilho incessível destes olhos caídos e duros que não se deixam vencer por tantas e quais queres mar de lagrimas provindos sejam de onde for. Acabam-se as telas e estranhamente ouço um silencio vindo de um absoluto escuro a minha frente, onde termina o caminho, negro absoluto, vácuo de todo querer, nada se propagava ali, nada. Paro alguns segundo a frente do breu e do desconhecido. Penso, lembro do que não lembraria em hipótese alguma, e canso de tentar, não haveria resposta, não ali. Faço então na verdade o que sempre haveria de ter feito, dou o passo a frente e me jogo a escuridão absoluta, e se me perguntarem porque o fiz, a resposta é muito fácil, como saber se o brilho de meus olhos iluminaria uma nova tela flutuante de momentos em minha vida se não o tivesse feito, cai por um tempo, mas ali, no breu de meu medo, sobrevivi e vi que minha luz e brilho não cessariam ao pudor de qualquer sobra que pairasse sobre mim alem da do meu chapéu. Fui alem novamente, e por ai ainda caminho, buscando novos fins de estradas com novos breus a serem iluminados.