O ÓCIO E O CIO
Quero viver o ócio sem culpa. Estou sem emprego, cuido da casa e aproveito momentos de sossego.
Artur da Távola disse numa frase: "Há duas instâncias realmente criativas no ser humano: o ócio e o cio." O ócio e o cio juntos, então, seriam o princípio da criação. Seria como unir a fome e a vontade de comer.
Não é sempre que os pássaros das boas idéias pousam sobre meus ombros sem que os chame. (Rubem Alves compara boas idéias a pássaros que aparecem quando querem). Às vezes, quando eles vêm, estou muito ocupada e se não puder dar atenção a eles e alimentá - los, vão embora. Esses, eu gostaria que fizessem ninho na minha cabeça.
Gosto de usar minhas mãos habilidosas, despertar minha criatividade adormecida.
Gosto de fazer coisas que me inspirem; ouvir músicas que me levam a um tempo que não volta mais, mas será eternizado em minha alma; enfeitar uma árvore de Natal roderada de gatos brincando e me afagando. Os bichos se sentem bem perto de mim. Quisera eu ter com as pessoas o entendimento que tenho com os gatos.
Sei que ninguém entende a necessidade que tenho de ficar só em alguns momentos; cercada de livros, cadernos, lembranças, CDs...
Num domingo à tarde, depois de uma semana cansativa, a coisa que eu mais queria era finalmente me aquietar, descansar, mexer nas minhas frases, concluir uns poemas... Me chamaram para ir à piscina. Não quis ir e detesto sair domingo à tarde.
A maneira mais eficaz de matar minhas idéias é sair de casa quando preciso escrever.
Quando faço um novo poema me sinto realizada. É uma sensação de plenitude que ainda não sei descrever.
Aproveito toda oportunidade para transmitir a idéia ou sentimento que me ocorrer. Arranjo um pedaço de papel e escrevo.
Em qualquer tempo livre ou momento de espera eu posso divagar devagar.
Qualquer lugar pode ser um pedaço do céu, se me vierem boas idéias e eu tiver em mãos caneta e papel.
E se me faltar a água e o pão, que não me falte imaginação.
Um poeta já possui os lugares mais belos do universo dentro de si mesmo. É só descobrir.
Há escritores que nos abrem horizontes, nos fazem viajar, visitar outras galáxias... Que pena nem todos conheçam o mundo magnífico da literatura.
Tenho piedade dos que evitam o pensamento, rimam felicidade com velocidade e passam pela vida a mil por hora, sem paradas para apreciar a paisagem.
Quem nunca precisou fazer uma 'faxina' em si mesmo, arrumar as gavetas da mente e do coração?
Tranquilidade, momentos a sós com nossas idéias e ideais, organizar nossos pensamentos e sentimentos, às vezes é tudo de que necessitamos.
Mas há coisas que só os poetas entendem.