Vito Doido

Eu tive um vizinho, considerado doido, que morava no final do “beco”. E não foi por poucos dias. Foram muitos anos. Talvez uns vinte. Ele ficava sempre nu em casa, mas havia uma cerca toda recoberta pela erva “são caetano” que dava uma frutinha a que chamávamos de “boizinho”. Quando a plantinha ficava mais sequinha, aí é que estava o perigo. Mas na rua ele sempre saía bem vestido. Nós tínhamos muito medo dele, que sempre estava com uma bengala ou um pedaço de pau e tinha reações constrangedoras de comportamento.

Às vezes, estávamos no quintal, ora cuidando das galinhas, ora pegando alguma fruta, ou mesmo brincando, quando víamos aparecer em cima do muro, aquela cara mais estranha nos observando. Corríamos assustadas para dentro de casa.

E o que ele gritava altas horas da noite? Era um verdadeiro pesadelo aquele vizinho! Chamava-se Vitor. Corria o boato que ele fora um rapaz bonito, inteligente e que fazia o Curso de Medicina. Quando um dia pirou e foi ser relojoeiro. E nosso temível vizinho!

Ele consertava os relógios e muitas pecinhas eram retiradas como sendo inúteis e dispensáveis ao funcionamento da máquina!

Tem muita história envolvendo o “Vito Doido”: um dia a casinha dele pegou fogo, enquanto ele estava na rua. Nós é que acudimos e ele “agradeceu”, xingando palavrões!

De vez em quando ele desaparecia por uns dois ou três dias, visitando parentes. Era aquele sossego no Beco!

Certa vez, ele foi para Goiás, na casa de uns conhecidos. Lá, ele foi atropelado, quebrando a “bacia”. Depois de alguns meses, chegou a notícia de sua morte. E as crianças puderam brincar em paz , todas as tardes, naquele Beco sem Saída!

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 08/04/2006
Reeditado em 16/09/2006
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