A PIRÂMIDE DE MADOFF

Em 28 de dezembro de 2008, escrevi: "Comenta-se que algumas proeminentes figuras do meio empresarial e político de vários países, incluindo nosso Brasil, é claro, aplicaram recursos desviados de instituições e da administração pública nas ágeis mãos de Bernie Madoff – o ex-presidente da Nasdaq, que perpetrou um golpe de 65 bilhões de dólares nos supostos espertos. O golpe da pirâmide, que os norte-americanos conhecem como “esquema Ponzi”, chega a doer de tão simplório: os recursos de novos investidores remuneram os mais antigos, estourando quando acontece desequilíbrio, especialmente através de saques vultosos, que a crise financeira provocou. Parece que a empresa de Madoff acenava com rendimentos estáveis entre 10% e 12% ao ano: uma beleza! Como boa parte dos recursos origina-se do caixa dois, muita gente nem pode abrir a boca, porque a Receita Federal estará naturalmente de olho. Quem conhece um pouco de história econômica, sabe da insegurança inerente a aplicações de dinheiro fora do país. Ainda mais em fundos financeiros sem qualquer transparência, em ambientes de frágil fiscalização e euforia. Dizem que ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão, mas creio que Mister. Madoff vai se incomodar, porque dilapidou recursos legítimos de instituições poderosas e de pessoas importantes. Afinal, bancos e fundos de investimento foram os grandes perdedores. É briga de cachorro grande.

O que surpreende – e não deixa de ser hilário – é que expressivos recursos de caixa dois teriam migrado para fora de fronteiras nacionais para encher as burras de golpistas alienígenas. Triste, por um lado, mas engraçado de ver como indivíduos e empresas, que se têm por muito espertos, acabam caindo, ainda hoje, no velho conto do vigário, do bilhete premiado, da corrente ou da pirâmide, pouco importa. Sinal de que a ganância não tem mesmo cura e de que o sabido de ontem ou de hoje é o trouxa de hoje ou de amanhã.

Solução jurídica não existe, mas um bom analgésico poderá aliviar, quem sabe, a dor de cabeça dos que se meteram de pato a ganso.

Hoje, dá para acrescentar que Bernard Madoff, de 75 anos, está cumprindo uma sentença de 150 anos, que inveja! Sabe-se, igualmente, que seu golpe, aplicado por décadas, movimentou valores de até 65 bilhões de dólares. Por outro lado, o poderoso banco JP Morgan, em função de recente acordo com vítimas da fraude, elevou a 25 bilhões de dólares o total que a instituição desembolsou nos últimos dois anos. Crime e castigo. As coisas relativamente funcionam nos Estados Unidos da América, a despeito das fragilidades dos controles de mercado que lá existiam e que propiciavam males desta ordem. Ou o terror das "subprimes", em que o mercado especulava com o título lastreado no empréstimo imobiliário de uma residência supervalorizada para um mutuário absolutamente desqualificado economicamente, sendo que o papel fajuto circulava como bom, de mão em mão, pela esperteza dos bancos e ganância ou despreparo dos investidores. Não dá para dizer que a ignorância está na raiz do florescimento das tramoias, porque, ainda agora, é notícia constante que pessoas de nível razoável caem no conto do bilhete premiado e em outras armadilhas pueris. E creio que a ganância é a chave. Minha mãe, há vários anos anos, acabou envolvida no teatro do bilhete premiado, mas caiu fora com muita indignação, quando começaram a falar em sociedade e vantagens financeiras: a "velha", na casa dos oitenta anos, era desapegada a dinheiro e a bens materiais, inclusive por ser espírita convicta, e queria ingenuamente apenas ajudar. Não dá para demonizar a ambição, que é coisa saudável, mas quando vira ganância, sofreguidão por lucro, desatino por vantagem em tudo, aí aparece um Madoff da vida, muito esperto e sociopata, e lança todo mundo no prejuízo: o "inteligente" passa a revelar sua pior face de otário. E o Brasil é uma coisa, os Estados Unidos, outra. A receita para ganhar dinheiro sem trabalho está guardada lá no fim do arco-íris." O pior é que ainda hoje segue o baile.

José Pedro Mattos Conceição
Enviado por José Pedro Mattos Conceição em 28/12/2008
Reeditado em 01/03/2019
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